Record (Portugal)

“Quero comprar a tua cabeça”

-

por uma questão cultural que no estrangeir­o nunca lhe tenham faltado convites?

MC – Não tenha dúvidas disso. A verdade é que nunca estive um ano sem trabalhar. O máximo foram seis meses. Pelos países por onde passei, aprendi muito e o meu presidente na Tailândia deume uma lição de vida a esse respeito. E só foi há três anos. Ele disseme que tinha contratado um treinador jovem e perguntei-lhe, logo, se estava a brincar comigo. Respondeu-me que queria comprar a minha cabeça porque eu sabia tudo de futebol. Disse-me que tinha contratado a minha cabeça e que para trabalhar estava lá os meus adjuntos com 30 e 40 anos. Em Portugal não se pensa assim. Ele comprou a minha competênci­a e não se deu mal com isso. Por cá, aposta-se em treinadore­s jovens com adjuntos velhos.

Tailândia, Egito, Emirados Árabes Unidos e China. Foi tudo um mar de rosas nesses países? MC – No Egito cheguei a chorar. O dinheiro não é tudo na vida. Eu não falava árabe, e inglês só muito pouco. Um dia estava no hotel, a olhar para a piscina, e as lágrimas vieram-me aos olhos. Estava longe da minha família e estive para vir embora. Não quis ser cobarde, não quis ser acusado de fracassar e decidi ser egípcio. Comecei a comer a comida deles, vestia-me como eles e até ia assim para os treinos e também fiz o Ramadão durante 12 dias. Não bebia água durante o dia, comia só às 7 da tarde quando o Sol se punha, voltava a comer à meianoite e acordava às 4 da manhã para comer outra vez.

E os cigarros?

MC – Não fumava. Um dia estive 40 minutos à conversa com um maço de tabaco e disse-lhe que não podia perder para ele. Disse-

“O DINHEIRO NÃO É TUDO NAVIDA E NO EGITO AS LÁGRIMAS VIERAMME ÀCARA. ESTIVE PARADESIST­IR MASNÃO SOU COBARDE”

lhe que eu eramaisfor­tequeotaba­co.

E problemas nunca teve?

MC – Uma vez um jogador veio para cima de mim para me agredir. Ele tinha sido expulso do treino pelo meu adjunto. O presidente soube e queria que eu fizesse queixa à polícia. Eu não fiz e fez ele. Como o jogador era estrangeir­o, acabou por ser exportado. Fiquei com pena dele. *

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal