Os árbitros já escolheram o campeão deste ano?
O VAR NÃO PODE SER APENAS UMA FACHADA, QUE ESCONDE INCOMPETÊNCIA E FAVORITISMOS. O SECTOR DA ARBITRAGEM, EM PORTUGAL, ESTÁ CHEIO DE INCONGRUÊNCIAS E CONTINUA A TER DEMASIADO PESO NAS VITÓRIAS E NAS DERROTAS
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Estoril-FC Porto da 18.ª jornada, interrompido em 15 de Janeiro, ao intervalo, com o resultado em 10, por causa de um alegado ‘problema de segurança’, concluiu-se 37 dias depois, a 21 de Fevereiro, em cuja segunda parte a equipa visitante conseguiu marcar três golos, serviu para acertar o calendário e tornar tudo mais claro, relativamente ao que falta realizar até final do campeonato.
...E istonãotemnadaavercomarbitragens!
Muito mal a Liga neste processo. Verdade desportiva colocada, desde logo, em causa. Depois deste (des)acerto, o campeonato entra agora numa fase decisiva, com o FC Porto a registar cinco pontos de avanço sobre o Benfica e Sporting, e já percebemos –não é de agora, é de sempre, no que diz respeito ao futebol português – que a arbitragem, no que diz respeito aos erros e decisões acertadas, relacionados com competências, nomeações e um conjunto de valências objectivas e subjectivas, vai ter um papel crucial no achamento do campeão nacional.
Oquenosdizemoscalendários, nestafase decisiva?
1.
O Sporting ainda se mantém na Europa e há a considerar a possibilidade de seguir para os ‘quartos’ da LE, o que significa jogar depois de Braga e antes da ida ao Restelo;
2.
O Sporting tem um calendário mais sobrecarregado e é preciso ainda ver se será ou não finalista da Taça de Portugal (ou FCP);
3.
O Benfica, fora de todas as provas, é também, por via disso, a equipa com ‘melhor calendário’, com mais jogos em ‘casa’ (6) do que ‘fora’ (5), ao contrário do FC Porto (5/8).
Ojogodeacertodecalendárioentre oEstoril e o FC Porto mostrou como o FC Porto está forte para consumo interno (mesmo depois do arraso do Liverpool no Dragão), mas mostrou também como as equipas de arbitragem podem ter e vão ter um papel muito importante na definição do campeão nacional, mesmo no ‘ano 0’ do VAR.
QuandoaFPF decidiuapostarno VAR,
o futebol português estava mergulhado num ambiente insustentável, por via das clássicas suspeições, alimentadas por um dirigismo incapaz de abrandar as suas dinâmicas comunicacionais, dirigidas às alegadas entorses provocadas pelos rivais, mas também porque estávamos no epicentro do ‘caso dos emails’, que veio adensar percepções, comportamentos e as bases (demasiado frágeis) em que assenta o futebol nacional.
Os árbitros, commuitas culpas no cartório, foram apanhados neste turbilhão e a ferramenta do VAR era observada, principalmente na FPF, como um escudo capaz de proteger os homens do apito. A caminhar-se para o fim deste ciclo do ‘ano zero’, e a escassos dias de o International Board e a FIFA tomarem decisões definitivas sobre o tempo de experimentação, quais as conclusões que se podem alcançar, considerando o exemplo português?
1. Aferramenta, do ponto de vista tecnológico, tem de ser aperfeiçoada (a questão do licenciamento do software para as situações de forade-jogo é fundamental para a credibilização do VAR);
2. O protocolo tem de evoluir e ser aperfeiçoado;
3. Aferramenta permite reduzir a margem de erro, mas ela ainda pode conhecer efeitos mais positivos se os utilizadores forem competentes (o que, em muitos casos, não tem acontecido);
4. As direcções de comunicação, ao intervirem publicamente, com razão ou sem ela, aumentam a percepção de ineficácia do VAR, dando ao erro uma dimensão amplificada.
Emsíntese: asferramentastecnológicas são utilizadas pelos mesmos árbitros que umas vezes estão fechados na Cidade do Futebol a olhar para os monitores e outras vezes estão sobre o relvado, a sentir a pressão dos adeptos, dos dirigentes e das suas próprias insuficiências (técnicas e psicológicas), carregando os mesmos vícios. Fatais.
AferramentadoVARnãoresolve umproblemaque está subjacente à actividade dos árbitros em Portugal: os medos, os fantasmas, os alinhamentos e os ditames do sistema. Os árbitros continuam muito expostos. Pelas cedências que já fizeram, pelos alinhamentos que protagonizaram e pelas correcções que nalguns casos querem fazer e não conseguem, porque estão quase sempre a subverter a verdade desportiva.
Estasemanativemosmaisdois exemplos do que não devia acontecer: má cronometragem em Tondela (como já havia acontecido no Restelo, no Belenenses-Benfica), com consequências no desfecho da partida; dúvidas acentuadas em mais um lance de golo, a abrir as portas da vitória do FC Porto, na Amoreira.
Situações que bulem com os resultados e os pontos (ganhos e perdidos) continuam a levar muito tempo a resolver. O VAR não pode ser apenas uma fachada. Tem de aumentar os níveis de eficácia, porque é possível aumentar esses níveis de eficácia. O futebol, em Portugal, não pode continuar a aceitar que sejam os árbitros e o sector da arbitragem a ter um peso determinante na ‘escolha’ do campeão nacional, em cada ano. Isso destrói a credibilidade da nossa Liga, que assim continuará longe de um nível de reputação ‘apenas’ aceitável.