Record (Portugal)

Nem de rabo sentado o VAR é competente

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DEUS PROTEJA OS LITIGANTES COMPULSIVO­S! ELES SUSTENTAM FAMÍLIAS ENQUANTO NÃO SE MELHORAR A QUALIDADE GLOBAL DA ARBITRAGEM, OS ERROS DIVIDIR-SE-ÃO ENTRE OS TERRENOS DE JOGO E O ESTÚDIO DA CIDADE DO FUTEBOL – O MAL É O MESMO

sou e serei um defensor do VAR. Mas defendo ainda mais a formação, para que se possa melhorar a qualidade da arbitragem. Porque instituius­e o VAR a mata-cavalos e a inaptidão verificada no terreno prolonga-se agora no estúdio. Em campo, um árbitro incompeten­te levou o jogo de Tondela até ao minuto 99 e alterou a verdade desportiva. Com o rabo sentado e até com o aqueciment­o ligado, um VAR incompeten­te validou, mal, o primeiro golo do FC Porto no Estoril – teriam acontecido os outros se esse não contasse? – e validou, mal de novo, o golo da vitória do Belenenses sobre o Feirense, com isso alterando também a verdade desportiva. Não foram lances claros? Pois não, mas se o VAR não os avalia bem, qual é a mais-valia que traz ao futebol? Ao cabo de muita roupa suja lavada no tanque da varanda para gáudio dos vizinhos, Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus encerraram os processos judiciais em que se acusavam mutuamente – sim, era o Benfica, eu sei –, apresentan­do como justificaç­ão a vontade de “preservaçã­o da imagem dos protagonis­tas”. E foram precisos anos para que as pessoas tão inteligent­es que os rodeiam chegassem à conclusão que se tratava, e volto a citar, de uma “escalada geradora de mais da- nos do que benefícios”? Como me disse um dia um advogado amigo: “Deus proteja os litigantes compulsivo­s e os paranoicos das indemnizaç­ões, que é com eles que eu sustento a família”. Terminados os Jogos Olímpicos de inverno,

deles destaco duas proezas. Desde logo, as cinco (!) medalhas da fundista norueguesa Marit Bjørgen, que elevou para 15 o seu total e ultrapasso­u o anterior recordista de medalhas, o compatriot­a do biatlo, Ole Einar Bjørndalen. A seguir, precisamen­te, o regresso aos grandes resultados da ora mulher de Bjørndalen, a bielorruss­a Darya Domracheva, que superou a quebra de forma provocada pela doença e pela maternidad­e. Ao ganhar o ouro com um brilhante último percurso na estafeta – mais a medalha de prata na ‘mass start’ – Domracheva reassumiu a condição de melhor biatleta do Planeta. Mais dois momentos altos do desporto no meu vasto currículo de espectador!

Sereianão sou,

mas sei que semana após semana faltará sempre um tema nesta crónica. Infelizmen­te já dei – pouco, é certo, e mesmo assim demasiado – para o peditório daquela guerra estúpida de que só resultam vencidos. Manter-me-ei, por isso, fiel ao pensamento de Kafka: “As sereias possuem uma arma ainda mais terrível do que o seu canto: o seu silêncio”.

Na semana que findou,

completei 15 anos consecutiv­os de escrita em Record, mais de dez como seu diretor. Havia colaborado também durante alguns meses com o jornal, mesmo no início do século, pelo que estarei já entre aqueles que por mais tempo aqui produziram prosa. Fica assim próxima a altura em que o virtuoso silêncio a que me referi atrás será total, com a devida autorizaçã­o do diretor-geral editorial da Cofina e do diretor de Record. Porque por muito duro que isso seja, o povo tem razão: a vida são dois dias.

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