Várias reprovações…
O QUE SE VIU FRENTE AO EGITO E À HOLANDA (DERRADEIROS TESTES ANTES DA DIVULGAÇÃO DOS 23 QUE SEGUIRÃO PARA A RÚSSIA) JÁ PERMITE ALGUMAS REFLEXÕES. HOUVE VÁRIOS ‘CHUMBOS’ E A ESCOLHA FICOU MAIS FÁCIL. OU NÃO…
A MULTIFUNCIONALIDADE DE BRUNO FERNANDES E MANUEL FERNANDES É UMA VANTAGEM
Se a ideia era avaliar e reduzir substancialmente a lista dos tais 35 selecionáveis, a tarefa de Fernando Santos pode ter ficado um pouco mais facilitada depois do duplo teste com o Egito e a Holanda. Porque houve reprovações estrondosas, alguns ‘chumbos’ quase certos e situações em que nem a oral está garantida. Todos os centrais estiveram abaixo do mínimo exigível, principalmente José Fonte (o que é um problema e devia garantir a chamada de Rúben Dias), a expulsão infantil de Cancelo também resultou em nota a vermelho e Adrien parece hoje um daqueles carros antigos a gasóleo com poucas octanas. E só não antecipamos o chumbo rotundo de André Gomes porque o selecionador pode ainda acreditar na sua recuperação.
Fernando Santos jamais se afastará, um milímetro que seja, do seu ideário futebolístico, em que há um mandamento que está sempre à frente de todos os outros: Portugal terá de ser sempre uma seleção equilibrada e maciça (tudo o que não se viu em muitos períodos dos dois últimos testes). Não é um conceito arbitrário (no sentido caprichoso ou opressor), algo que, de resto, nem sequer seria possível numa personalidade de raro sentido de equidade e probidade. E também não é apenas resultado de o selecionador estar escudado no maior feito do futebol português. A verdade é que Santos tem vivências (designadamente em torneios de seleções) e fundamentos mais do que suficientes para intuir que só assim Portugal conseguirá ser competente, disfarçar algumas das suas deformações e ser perigoso e letal num ataque que vive sob a lei de Ronaldo. E essa convicção medra ainda mais quando não tem disponíveis jogadores basilares, como é o caso de Pepe, cuja ausência deixou o centro da defesa tão rápido e expedito como um caracol a andar sobre manteiga de amendoim – e a proposta, deixada aqui há uma semana, de (ainda) poder vir a ser testado Danilo Pereira a central passou a fazer ainda mais sentido após o que se viu nestes dois particulares. Não era, por isso, a melhor altura para se pedir uma seleção mais dada à aventura, por muito que a aparição de médios e avançados de imenso talento possa vir a legitimar, cada vez mais, a aposta num futebol mais associativo e desafiador. A verdade é que alguns deles, como foram os casos de Rúben Neves, João Mário e Bernardo Silva, também não atingiram a bitola exibicional que a sua imensa qualidade preceitua.
O futebol, já se sabe, é demasiado complexo para que alguém possa ter sempre razão, a começar, obviamente, por quem tem a incumbência de o criticar. Mas o que se viu frente ao Egito e à Holanda já permite algumas reflexões. Começando pela baliza, a titularidade do veterano (35 anos) Beto frente ao Egito (a exemplo do que já havia acontecido diante dos EUA) podia indiciar que Santos olhava para o guarda-redes do Goztepe (sétimo classificado na liga turca) como o primeiro substituto de Rui Patrício. Mas Anthony Lopes foi titular ontem e a tese cai por terra. Justo, porque ele é um dos melhores guarda-redes da Ligue 1 e, se tivesse optado pela nacionalidade francesa, estaria hoje provavelmente a discutir a titularidade com Hugo Lloris. Algo ainda mais presumível é que Fábio Coentrão pode ter perdido a corrida. Principalmente se se confirmarem os sinais (a começar pelo comunicado médico e pelas declarações do próprio selecionador) que apontam para a possi- bilidade de ter gerido as suas debilidades físicas sob o prisma do calendário do seu clube. Não será um grande problema, porque Raphaël Guerreiro seria sempre o titular e porque Mário Rui dá garantias. Mas, atenção, caso Santos opte por levar apenas sete defesas, esta seria talvez a posição a reduzir, até porque Ricardo Pereira (se Nélson Semedo não voltar a tempo) dá conta do recado na esquerda. Mas nesta gestão há que contar com outras variáveis, designadamente a importância grande que o selecionador dá à plena integração no grupo. E isso pode transmutar o que seria lógico…
Para o meio-campo há boas soluções em fartura, mas também muitos jogadores com falta de confiança e pouco tempo de jogo, como são os casos de Adrien, André Gomes e João Mário. A dúvida é se a aposta passará pela sua recuperação ou pela rentabilização de quem se apresente nas melhores condições. E entre estes últimos é justo reconhecer que Bruno Fernandes e Manuel Fernandes têm feito o suficiente para justificar a chamada, até porque a sua multifuncionalidade permite outra variedade tática e estratégica. Rúben Neves estará certo, mas apenas se o selecionador colocar Danilo no lote dos centrais.