O poder no Sporting
HOJE EM DIA, CONSIDERANDO QUE JESUS É MUITO MAIS COISAS QUE UM TREINADOR, TALVEZ NÃO SEJA ASSIM TÃO CARO...
Quando, em 2005, o presidente António Dias da Cunha se demitiu, porque o treinador José Peseiro se demitira também, havia nessa singularidade, única no dirigismo desportivo em Portugal, uma autêntica subversão institucional. Isto porque, em qualquer SAD, é o presidente quem tem pode- res para licenciar o treinador e não faz sentido que saia em consonância solidária com este.
É o perigo de projetos que se centralizam num determinado treinador, como foi o caso. O António Dias da Cunha fora, porém, injustamente maltratado pelas claques, e até percebo que se tenha querido ir embora, à primeira oportunidade, mesmo ao arrepio das regras da boa governança. Curiosamente, a história repete-se.
Vistas as coisas friamente, quem, neste momento, tem o poder no Sporting é o treinador, não o presidente.
Não se está perante um golpe de estado, perpetrado pelos seus autores. Digamos, antes, que as coisas se proporcionaram naturalmente nesse sentido, da forma que todos conhecemos.
Jorge Jesus teve o discurso certo, a palavra oportuna, a atitude sensata, a pose serena, a inteligência clarividente de saber gerir o momento. Com isso impôs-se e soube preencher o vazio, ao qual, como se sabe, a natureza tem horror.
Qualquer manual de ciência política ensina que o poder pertence a quem o consegue exercer e é esse o quadro do Sporting, ou seja, um presidente manietado e refém dos seus atos e um treinador que teve a arte e engenho de agarrar o balneário, em hora crítica.
O CLUBE TEM UM LÍDER MANIETADO E REFÉM DOS SEUS ATOS. O TREINADOR AGARROU O BALNEÁRIO
E porisso manda quem pode, e quem pode, neste momento, é Jorge Jesus.
Se calhar é melhor assim, porque há apaziguamento, há serenidade e sobretudo união, os estatutos que esperem. Além disso, o Sporting tem outro encanto com o seu presidente em modo de contenção verbal.
No outro dia, referi que não sabia se o Sporting conseguiria manter Jesus, dado o seu elevado salário. Hoje em dia, considerando que ele, no Sporting, é muito mais coisas do que um treinador, talvez não seja assim tão caro.