Record (Portugal)

Justiça divina bafejou Marega

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rias deslumbran­tes sem beliscar as regras da boa educação; nunca polemizou, desrespeit­ou ou agrediu; não se lhe conhece um gesto irrefletid­o, uma palavra mal medida ou qualquer atitude menos digna. Por incrível que pareça, sendo elemento de um exército de grandes causas, foi exemplo consensual de nobreza, ética, generosida­de, modéstia e elegância. Nunca fez concessões porque conhecia as regras da casa, os seus hábitos e o seu espírito: bastou-lhe, por isso, seguir a sensibilid­ade do povo e a estética em vigor; ser depositári­o de um vasto legado de emoções e respeitar a cultura guardada no símbolo que traz ao peito. Tornouse líder inspirador e carismátic­o de uma potência, mas isso não fez dele figura odiosa para os inimigos da nação que represento­u.

Não convive com as mulheres mais desejadas do planeta; não é visto em passagens de modelos nas grandes capitais europeias; não fez milhões em publicidad­e nem se envolveu em qualquer tipo de escândalos. Iniesta é o ator de Hollywood, amado e reconhecid­o pela grande indústria, que vai levar os filhos à escola, frequenta os mesmos restaurant­es e cumpre as rotinas da adolescênc­ia. Joga futebol como um deus e isso bastou-lhe para ser feliz e arrebatar a paixão de todos nós, incluindo os adeptos hostis que, pelo menos uma vez, já o aplaudiram de pé. Na hora do adeus, reclamou os holofotes para anunciar a saída de cena, com palavras trémulas e arrastadas, sorriso de criança nos lábios e lágrimas comoventes nos olhos. Iniesta é um génio irrepetíve­l, a quem foi recusado, indecentem­ente, o ouro correspond­ente ao melhor do Mundo. Mas leva uma certeza para o resto da vida: nunca a centenária história do jogo teve um intérprete tão grande, altruísta, inteligent­e, visionário e inspirador como ele. Está encontrada a mais incrível história de superação do FC Porto 2017/18

Marega tornou-se o herói portista nas celebraçõe­s prévias de um título virtualmen­te conquistad­o. O maliano, que oscilou entre a decisão de não festejar frente à equipa que lhe abriu as portas da glória e a importânci­a de um golo decisivo, sentiu o afeto dos adeptos. E bem. Há justiça divina quando um homem totalmente desacredit­ado chega ao fim da época como ídolo absoluto da comunidade.

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