CAM PE ÃO CO LO CA D I ABETES D E LAD O Q U AN D O C O R R E
“Olho para a minha doença como uma motivação e a viver desta forma sou um homem feliz”
Fernando Santos é atleta do Belenenses e venceu, em abril, o 1º Campeonato Internacional de Maratona para Portadores de Diabetes, que se realizou em simultâneo com a Maratona de Roma. Não foi por acaso que o português, de 47 anos, chegou a Itália e conseguiu este resultado, pois fez atletismo de alta competição durante muito anos, até que foi obrigado a parar, quando lhe foi diagnosticado diabetes. Fez um interregno de 19 anos, mas o ‘bichinho’ pela corrida começou a voltar e Fernando sabia que conseguiria praticar desporto de alta competição. “Disseram-me que o melhor para a minha saúde era não praticar desporto, mas de há seis anos para cá sinto que isso não é verdade”, admite a Record. A diabetes agora serve-me de motivação, porque consegui superar as dificuldades que me dava. Recuso tudo aquilo que a diabetes me quer
“
fazer e faço de tudo para a contrariar e sou feliz assim. Sinto uma alegria enorme quando corro, tento aproveitar ao máximo os 42 km porque sei que pode ser a última vez. E foi isso que fiz no Campeonato do Mundo”, vinca. O português concluiu a Maratona de Roma em 3h03m15s, o que lhe valeu a medalha de ouro de entre os participantes portadores de diabetes. E faz uma pequena comparação para expor as dificuldades para enfrentar uma prova como esta. “Se a preparação de um atleta dito ‘normal’ já é muito dura e complicada, imaginem como é para nós que temos esta limitação e que temos de conseguir controlar a diabetes para três horas de esforço extremo”, salienta. Com esta vitória, Fernando considera que terá a oportunidade de participar em cada vez mais corridas e de maior importância. “Já estou convocado para os Mundiais de meia-maratona e estou à espera de conseguir concorrer numa das grandes maratonas dos Estados Unidos”, conclui. Fernando está também a começar a treinar com uma companhia muito especial: ‘Retina’, cadela de 7 meses, que é uma ‘medical dog’ e está a começar a ser treinada para conseguir detetar hipoglicémias em corrida, capacidade que, normalmente, os cães não conseguem ter. Vão ser os treinos com Fernando que vão fazer com que ‘Retina’ seja capaz de o acompanhar em corrida e numa aventura que está programada para este verão: uma escalada nos Pirenéus.
“SINTO UMA ALEGRIA ENORME QUANDO CORRO E APROVEITO AO MÁXIMO PORQUE SEI QUE PODE SER A ÚLTIMA VEZ”, DIZ
‘Diabetes Running Team’
Este é um projeto já enraizado em países como a Inglaterra ou os EUA e que Alexandre Silva, da Associa- ção de Jovens Diabéticos de Portugal (AJDP), e Fernando Santos querem implementar em Portugal. Alexandre, de 36 anos, tem uma filha diabética e já tem este projeto na cabeça há algum tempo. “Esta equipa surgiu pela primeira vez na Scalabis Night Race, em Santarém, onde fomos 27 participantes, e o objetivo deste projeto é mesmo aquilo que se sentiu nessa noite. Uma união incrível entre todas a associações e conseguir trazer cada vez mais pessoas que sofram deste problema e que estão escondidas. Temos o objetivo de mostrar que a diabetes não limita”, afirma. Este ainda é um projeto muito embrionário, mas, juntamente com Fernando Santos, Alexandre quer conseguir fazer com que seja uma referência a nível nacional, onde os valores sejam a união e a família. “O que queremos com este projeto é passar a ideia que nós, diabéticos, somos capazes de fazer qualquer desporto. Desde os meus 23 anos que já não penso no hoje nem no