REI DRAGÃO PASSEOU A COROA
De patinho feio a campeão mais pontuado de sempre do seu historial. O FC Porto inventado por Conceição foi eficiente no fecho de contas
Em finais de julho do ano passado, o FC Porto pisou o relvado do D. Afonso Henriques para o seu primeiro jogo à porta aberta, em Portugal, da pré-temporada. Nessa altura, e apesar da exibição arrasadora que conduziu ao triunfo (2-0) e deixou indicações promissoras, talvez só Sérgio Conceição acreditasse que seria possível regressar ao ‘local do crime’, nove meses volvidos, podendo passear em ambiente festivo a coroa de novo rei da 1ª Liga. E, mais espantoso do que isso, estando às portas de consolidar-se como campeão mais pontuado de sempre da história azul e branca, igualando ao mesmo tempo o recorde absoluto do campeonato.
Passou, de facto, muita água por baixo da ponte. Aquele grupo de ‘sacanas sem lei’, rejeitados para quem a glória parecia sempre demasiado distante, afirmou-se como uma equipa sólida e competitiva. Um clube sem dinheiro nos cofres, com opções limitadas, mas com uma ânsia de voltar ganhar que a chama do técnico inflamou. O fecho de contas foi eficiente, ainda que ressentindo-se da tal descompressão que Sérgio conseguiu minimizar. Como derradeira imagem, dificilmente outro lance seria mais fiel para espelhar o que foi o ano portista do que um canto de Alex Telles capitalizado de cabeça, neste caso por Marcano.
Exercício de Paciência
A primeira evidência do encontro é que o FC Porto, mesmo demonstrando vontade de ir para cima do adversário à procura do triunfo, raramente fazia subir o nível de rotações ao ponto de atingir a intensidade que agrada ao seu treinador. Mesmo assim, e se calhar com alguma estranheza, as oportunidades foram surgindo com alguma naturalidade. Mesmo de forma pausada, os dragões criavam espaços e ameaçavam Miguel Silva, nomeadamente com Gonçalo Paciência, autor de quatro remates, a ficar a dever a si próprio a estreia a marcar pela equipa principal. Óli- ver teve espaço para dar qualidade a alguns passes e até tentar rematar, algo em que não foi pródigo durante a época.
Se calhar menos esperada foi a postura do V. Guimarães. Numa partida em que estivessem objetivos em causa, seria expectável, face a exemplos recentes, que José Peseiro procurasse compactar as suas linhas, retirando espaço ao FC Porto e procurando depois explorar as iniciativas de Raphinha e Heldon. Só que a velocidade dos extremos nunca carburou e, com Mattheus Oliveira preso a funções de médio-interior em linha com Wakaso, os vitorianos abdicaram
da oportunidade de tirar partido do ritmo quase recreativo, para os padrões de Sérgio Conceição, que o FC Porto chegou a evidenciar durante algumas fases, levando o técnico a erguer a voz a partir do banco. A predisposição festiva de Felipe ainda deu alguma margem a Rafael Martins, e até Wakaso, de tentarem desfeitear o estreante Vaná, mas em lances que resultaram mais de claros erros de posi- cionamento ou leitura dos portistas, ainda que no primeiro remate do ponta-de-lança, o passe de Raphinha tenha sido brilhante.
Comemoração assistida
Na era em que os sinais enviados do banco são escalpelizados ao pormenor, Conceição retirou Gonçalo Paciência e lançou Soares, avisando a equipa de que era preciso elevar o nível para alcançar o tal golo que faltava. Como tantas vezes aconteceu, o serviço de urgência de Alex Telles estava de piquete e a sua assistência, através de um canto com mira telescópica, deu a Marcano a satisfação de uma despedida inesquecível após quatro temporadas de profissionalismo inquestionável. O Vitória não se rendeu, mas pouco incomodou. Deu até para, depois de Vaná entrar no onze, Fabiano também ganhar o título. *