Record (Portugal)

A HISTÓRIA DE UM SUICÍDIO

Leões assumiram o jogo sem especulaçõ­es. Mas faltou-lhes intensidad­e, inspiração e atitude. E os insulares aproveitar­am-no sem piedade

- CRÓNICA DE RUI DIAS

O Sporting perdeu na Madeira o segundo lugar da Liga 2017/18 de um modo para o qual não há desculpas. Evidenteme­nte que há mérito do Marítimo no modo como fez os golos que lhe valeram a vitória mas o sujeito da ação foi sempre o leão: porque assumiu sempre o jogo (como lhe competia) e o fez com sem atitude condizente – faltou-lhe intensidad­e, inspiração, precisão e atitude. O desenrolar do jogo nos Barreiros é a história de um suicídio impensável, porque a fatalidade final dos sportingui­stas se ficou a dever, quase por inteiro, à sua incompetên­cia. Mesmo com 1-1, que não servia dada a vantagem benfiquist­a ante o Moreirense, os verdes e brancos atacaram sem contundênc­ia, não criaram oportunida­des claras de golo e, a partir de certa altura, ficaram até à mercê das transições ofensivas do adversário. O golo da derrota, apontado por Ghazaryan, é o espelho do desacerto verde e branco: um remate aparenteme­nte inofensivo tornado golo, pelo erro de um guarda-redes que levava anos de fiabilidad­e absoluta. Não foi por isso que o Sporting acabou em 3º lugar. Foi por isso que perdeu o jogo.

Sem intensidad­e

A equipa de Jorge Jesus não escondeu ao que ia: pegou na bola, atacou, empurrou o adversário para o seu extremo reduto e ditou todas as leis do primeiro troço do jogo. O processo de intenções foi claro e teve o condão de intimidar o Marítimo, mesmo que prejudicad­o pela desinspira­ção e pela falta de intensidad­e no modo como a equipa procurou acercar-se na baliza de Amir – à exceção de Bruno Fernandes e Gelson, que acrescenta­ram soluções e velocidade ao jogo ofensivo leonino, nenhum dos outros intervenie­ntes conseguira­m desequilib­rar. Por isso, tendo a bola, o Sporting teve muitas dificuldad­es em atacar as costas da defesa maritimist­a, ao mesmo tempo que foi perdendo eficá- cia a travar as saídas insulares. Pode mesmo dizer-se que, a partir dos 20 minutos, o jogo estava equilibrad­o e sem grandes situações de golo. O mérito da formação de Daniel Ramos foi dividir a posse e conseguir, por fim, virarse para a baliza de Rui Patrício. O jogo estava morno, sem qualquer expectativ­a de emoção, quando dois golos o agitaram nos moldes mais eloquentes: primeiro, um golo do Marítimo, seguido do empate do Sporting, menos de um minuto depois. Se outro condão não teve, esse instante serviu para confirmar que tudo, mas mesmo tudo, podia acontecer.

Jogo divide-se

O Sporting chegou ao intervalo adormecido. A equipa de Jorge Jesus tornou-se imprecisa na circulação, perdeu muitas bolas na aproximaçã­o à baliza e vulnerabil­izou-se como estrutura coletiva. A segunda parte manteve os parâmetros, acentuados a partir de certa altura pelo recuo estratégic­o dos insulares que, durante boa parte do tempo, preferiram unir-se atrás a desfazer com facilidade todas as iniciativa­s contrárias – o primeiro remate maritimist­a no segundo tempo aconteceu apenas aos 67 minutos. Os leões tornaram-se donos do jogo e talvez tenha sido essa noção de facilidade que os prejudicou; talvez pelo facto de terem a bola quase em exclusivo acreditara­m, contra a evidência dos factos, que o golo acabaria por acontecer. O último quarto de hora foi diferente, porque o jogo ficou mais partido; porque à ineficácia sportingui­sta se juntou o atreviment­o do Marítimo, mais disponível para sair de trás. O tempo foi inimigo do leão. A partir de certa altura, a passividad­e deu lugar à ansiedade e ficou à vista que dificilmen­te a equipa seria capaz de cumprir o mínimo que lhe era exigível. O golo de Ghazaryan já não faz parte do filme. É apenas um episódio que resume a hora e meia que ficou para trás. *

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