Record (Portugal)

“Nem falaria com alguém que me quisesse comprar”

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Como analisa o campeonato que agora terminou? COSTINHA – Em termos futebolíst­icos, foi um campeonato muito bom. O Sp. Braga aproximou-se dos chamados três grandes e fez uma campanha fantástica. O título foi disputado até ao final.

Considera que o FC Porto foi um justo vencedor?

C – Sim. Esteve em primeiro lugar durante bastante tempo, fez um campeonato regular. O trabalho do míster Sérgio Conceição tem de ser enaltecido.

Foi um campeonato disputado, mas também bastante polémico... C – Penso que acaba um pouco manchado por aquilo que não é o futebol, por tudo o que o estraga. É impensável, por exemplo, o que aconteceu em Alcochete.

O que sente ao ver tudo aquilo que se passou?

C – Sinto uma grande revolta e uma tremenda angústia. É muito difícil estar a ver adeptos a insultar jogadores como, por exemplo, o Rui Patrício, que sempre deu tudo pelo Sporting, só porque teve um lance menos feliz. A verdade é que ele já fez defesas impossívei­s. Custa muito porque sei que, tal como eu, eles dão o máximo pelo clube deles.

É possível ficar alheio a todas as polémicas do futebol português, como por exemplo as denúncias de suborno e jogos comprados?

C – A mim passa-me completa- mente ao lado. Talvez porque me considero psicologic­amente muito forte, acho que isso não me afeta nada. Eu nem falaria com alguém que me quisesse comprar ou propor alguma coisa.

Mas é uma situação que afeta a imagem dos jogadores portuguese­s, ou não?

C – Sem dúvida que afeta. É uma vergonha para o país. Somos campeões europeus, num país que respira futebol, e estamos a passar todas as semanas por este tipo de situações. Quase todos os nossos embaixador­es são futebolist­as, ou pessoas ligadas ao desporto, e não merecíamos passar por isto. É necessário que sejam tomadas medidas.

De quem é a maior responsabi­lidade pelo estado em que está o futebol português

C – Penso que passa por todos os que estão envolvidos no futebol. Não tanto pelos que estão dentro das quatro linhas, mas mais pelas direções, comunicaçã­o social e comentador­es. Nunca vi um jogador de futebol ir à televisão falar, por exemplo, sobre questões relacionad­as com medicina. Porque é que pessoas que não têm nada a ver com futebol estão sempre a comentar fu- tebol? Isso mata o futebol. Noutros países, como em Inglaterra, quem comenta são apenas jogadores ou ex-glórias do futebol. Pessoas que percebem o que é estar dentro de campo. Aqui há muitos treinadore­s de bancada.

Ser jogador de futebol profission­al é tudo aquilo que sonhava? C – Sim. Posso fazer o que sempre gostei, a minha paixão, e ainda ser remunerado por isso. Só tenho de desfrutar ao máximo porque esta carreira é curta.

Preocupa-o o facto de durar assim tão pouco tempo?

C – Sim. Principalm­ente agora que tenho um filho. Já estou a tirar o curso de treinador. Não sei se é isso que vou ser mais tarde, mas vou já adiantando o trabalho para o caso de querer seguir por aí.

Que tipo de treinador seria?

C – Penso que seria mais um gestor de recursos humanos, de ambiente de balneário e com o foco na relação com os jogadores.

Foi pai recentemen­te. Como gostaria que o seu filho o visse?

C – Espero que ele olhe para mim como um jogador que sempre teve fair play e que nunca passou por cima de ninguém para atingir os seus objetivos. *

“CUSTAMUITO­VERADEPTOS­A INSULTARJO­GADORESCOM­O,POR EXEMPLO,ORUI PATRÍCIO,QUE SEMPREDEU TUDOPELOSP­ORTING”

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