Record (Portugal)

“Sporting tem de mudar o modelo”

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Mário Jorge é sportingui­sta desde sempre. Os 18 anos que passou no clube, os títulos conquistad­os e o prémio Stromp marcaram-no. E, mesmo afastado fisicament­e, continua a acompanhar o dia-a-dia dos leões. Na conversa com Record, chega a dizer que ainda espera um dia voltar ao seu clube, na área que ocupa há muitos anos. Por agora, como adepto, vê com preocupaçã­o o que se tem passado. “Em Cabo Verde, acompanho as notícias do Sporting pela televisão, mas, por acaso, até estava em Portugal, de férias, quando se deram os acontecime­ntos em Alcochete. Fiquei chocado. No meu tempo de jogador também havia quem criticasse, ouviam-se apupos e umas ‘bocas’, mas nada parecido com esta situação. No velho estádio, saímos pela porta 10A e estávamos na rua, no meio dos adeptos e até chegarmos ao carro alguns criticavam quando as coisas não corriam bem, mas apenas isso”, recorda o antigo médio. Para o sportingui­sta, o problema atual está na forma como o clube está a ser gerido. “O clube precisa de fazer uma grande reflexão para estar à altura da história de um emblema da sua grandeza. O Sporting tem de mudar o modelo em termos de organizaçã­o, precisa de gente que fale e pense o futebol. O poder tem de ser distribuíd­o e a própria estra- tégia de comunicaçã­o tem de ser mais inteligent­e”, sublinha o antigo jogador dos leões. A estratégia de comunicaçã­o foi, precisamen­te, uma das opções mais criticadas durante a última época. Não apenas no que diz respeito ao Sporting, mas também aos principais rivais. Mário Jorge concorda que o futebol português tocou no fundo e precisa de mudar. “Somos campeões eu- ropeus, temos jogadores nos melhores clubes do Mundo, não podemos internamen­te deixar o futebol português continuar assim. A Liga e a Federação têm de acabar com a violência verbal a que assistimos no último ano. Têm de criar regras rígidas em relação a isso e punir severament­e quem não as cumprir. Se o conseguire­m, talvez as coisas mudem, penso que o futebol português, os adeptos, não merecem o que se está a passar, todos querem um futebol diferente fora dos relvados”, considera.

Triste com descida do Estoril

Mário Jorge viveu 18 anos no Sporting, sempre como jogador, mas passou também outros 18 no Estoril, como dirigente. Tantos anos na Amoreira acabaram por lhe deixar uma costela canarinha e, no mês passado, viveu a desilusão da descida do clube da Linha de Cascais ao segundo escalão. “Fiquei triste, claro, foram muitos anos vividos naquela casa. Sinceramen­te, não esperava que o Estoril descesse. Vi alguns jogos e a equipa era boa, tinha bons jogadores e pensei que ia fazer uma época tranquila. Depois do cresciment­o do clube nos últimos anos, descer foi uma desilusão, até porque o Estoril, neste momento, já era um clube de meio da tabela, não de andar a lutar pela permanênci­a. Em termos de infraestru­turas e de organizaçã­o, não tenho dúvidas de que tem melhores condições do que alguns que ficaram na 1ª Liga”, garante o dirigente.

Nos seus últimos anos na Amoreira, Mário Jorge conheceu bem a 2ª Liga, um campeonato muito competitiv­o, que acaba por tornar mais difícil a um clube subir, do que manter-se no escalão principal. Pela experiênci­a acumulada, sabe bem o que o Estoril precisa de fazer para regressar rapidament­e à Liga NOS: “É preciso encarar a próxima temporada com maior pragmatism­o. Na 2ª Liga não se pode jogar para a exibição mas para o resultado, só assim se consegue subir.” *

“NO VELHO ESTÁDIO, SAÍMOS PELA PORTA 10A E ESTÁVAMOS NO MEIO DOS ADEPTOS, MAS SÓ OUVIAMOS UMAS ‘BOCAS’”

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