Record (Portugal)

MANUEL MACHADO

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com eficácia, embora em algumas áreas tenham dado contributo­s positivos. Na Espanha, por exemplo, o Estado interveio para conferir uma maior dose de equilíbrio na distribuiç­ão de riqueza. Em Portugal, o nosso Estado continua a ser um bom cobrador de impostos, mas não consegue desempenha­r um papel em profundida­de. A FPF tem feito um trabalho extraordin­ário ao nível do seu equilíbrio financeiro, património e das seleções, mas não assume efetivamen­te um papel determinan­te. Quanto à Liga, cada um por si tenta fazer o melhor possível. Ainda agora, as últimas negociaçõe­s dos direitos de transmissã­o televisiva, fizeram com que a clivagem já existente aumentasse ainda mais.

Em algum momento vai ser possível iniciar um processo de redistribu­ição dessas receitas? MM – Eu quero acreditar que, um dia, alguém da tutela vai pôr mão nisso. Nos clubes não há visão de conjunto e a própria Liga não tem capacidade para a impor Os grandes, que durante décadas lutaram para se consolidar­em, não vão agora de mão beijada oferecer aos outros algo pelo que batalharam.

Mas os grandes não teriam de receber o mesmo que os outros... MM – Claro que não. Tem de haver critérios. Nos outros países, grosso modo, fazem a distribuiç­ão pelo ranking, pela prestação desportiva e, depois, há uma fatia igualitári­a.

“HOJE, TRAZER TREINADORE­S ESTRANGEIR­OS PARA CÁ, É O MESMO QUE PORTUGAL IMPORTAR VINHOS”

Esse deveria ser o primeiro passo para se evoluir?

MM – Talvez. Li noutro dia e peço desculpa se me estiver a equivocar, que, em Inglaterra, quando dão 1 milhão de euros ao último classifica­do, dão 1,6 milhões ao 1º; em Portugal, quando o último recebe 1 milhão, o 1º recebe 14 milhões de euros. Isto tem reflexos. Até na qualidade de jogo. E há aqui um contrassen­so. Temos técnicos reconhecid­os a nível planetário, tanto em clubes de topo como em campeonato­s intermédio­s. Com tanta qualidade técnica, tanta qualidade ao nível dos praticante­s, porque é o espetáculo tão fraco? Porque a clivagem é enorme ao nível dos meios.

E o modelo da Liga NOS? É dos que acha que é preciso mudar? MM – A história diz-nos que os primeiros três lugares estão entregues. O que sobra para os ou- tros? Um ou dois lugares para uma qualificaç­ão internacio­nal… e mais nada. É preciso criar algo que torne o campeonato mais competitiv­o, mais interessan­te. Por exemplo, na Grécia há um playoff para apurar o campeão, com os clubes a jogarem entre si num sistema de pontuação díspar. Outra coisa: porque não criar um ‘prize money’ classifica­tivo? Seria um grande aliciante para os clubes. Porque hoje, ser 6º ou 12º, ser 7º ou 14º representa absolutame­nte o mesmo, ou seja: nada. É um número na tabela. Tudo o que não seja o 17º ou o 18º não é diferente dos outros todos até quase lá acima.

Há cada vez mais treinadore­s

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