“Sem moderação estamos a promover o ódio”
lhos de administração e direções são os departamentos de comunicação. E, sem moderação no discurso, estamos a promover o ódio. Ou és da minha fação ou és contra mim. Errado. Muitas vezes, o melhor tempero é o silêncio.
Mashádirigentesquetêmsede demediatismo?
RC – O que se faz é disfarçar o insucesso na gestão desportiva com os discursos. O futebol corre no sangue do povo português e esse facto eleva os dirigentes a um papel central no panorama do futebol em Portugal. Temos uma conferência de imprensade umpresidente e três ou quatro canais ficam em direto, durante três horas, a transmitir o discurso. Se fosse o Presidente da República... vamos ouvi-lo falar durante três horas. Muitas vezes é a própria comunicação social que dá demasiadarelevânciaàquilo que é a necessidade dos dirigentes terem palco. O futebol português precisa de outramaneirade ser. E de pacificação.
Nãosãoaspetosdemasiadoimpregnados namentalidade portuguesaparaseremalterados?
RC – Temos de aplicar a política dos pequenos passos, começar por algum lado. O caminho faz-se caminhando. Por exemplo, aqui, no Santa Clara, há três anos, tínhamos 200 pessoas no estádio e eu andava a pregar no deserto. Se não houver alguém que dê uma perspetiva positiva, as pessoas nuncavão ter uma opção para seguir. Estar com esse fatalismo é um pouco como o livro do filósofo, ‘Portugal de Hoje’, que defende existirem coisas que estão impregnadas nanossa cultura. Não acredito nisso, mas simque é possível fazer mais e melhor e assumir umaatitude positivaperante as adversidades.
Paramudararealidadedofutebolportuguêscomeçavaporaí? RC – Sempre. É preciso acreditar. A história da evolução da Europa resulta de acreditar que as coisas boas acontecem, que nós conseguimos vencer pelo trabalho, pelo suor e pelo mérito. E temos excelentes exemplos. O Leicester foi campeão inglês, nós subimos de divisão, passados 15 anos, e toda a gente dizia que não íamos subir. Acreditámos e lutámos, porque fomos positivos.
E Portugal foi campeão da Europa...
RC – Portugalfoicampeão daEuropa com um golo do ‘patinho feio’. Toda a gente dizia que o Eder não sabia dar dois pontapés na bola, o desengonçado, andavatodo torto e desequilibrado dentro de campo, caíaparaafrente e caíaparatrás. Ele é que marcou o golo da vitória. É possível marcar a diferença pela positiva. O FC Porto foi campeão nacional com todo o mérito, com uma equipa feita com base naquilo que já tinha. Os exemplos são mais do que muitos. *