Modelo e estrutura
Será a definição do plantel que terá à sua disposição, e o conhecimento que virá a ter dos jogadores, a chave para a afirmação de um modelo de jogo e de uma estrutura. Tem sido sempre assim por onde tem passado Mihajlovic. Isto porque o seu trajeto é estigmatizado pela assunção de projetos de alto-risco em clubes que se encontram em momentos de retumbante inquietação, o que leva a que as suas ideias se tenham que adequar ao contexto em que está inserido. Mas percebem-se traços comuns: a tendência para promover alterações profundas sem olhar a nomes em contextos árduos; o de conseguir criar uma identidade de jogo, mesmo assumindo riscos elevadíssimos, apostando num rejuvenescimento do onze-base; e a inabilidade para estabilizar, típica de um mestre na arte do conflito, quando a bonança parece estar em vias de ser lograda. O 1x4x3x3 é a sua organização estrutural dileta, alternando-a com o 1x4x2x3x1, em que reforça a zona central do meio-campo com uma segunda unidade de contenção, libertando o terceiromédio para um espaço de criação e/ou finalização. Ao serviço do Milan, até pelas aquisições que efetuou, mostrou sempre uma maior tendência por atuar com dois avançados, o que o levou a apostar no 1x4x3x1x2 – mais cínico – e no 1x4x4x2 clássico – de risco mais elevado – como estruturas preferenciais. Por norma, as suas equipas apresentam um processo ofensivo mais consistente do que o defensivo. Mihajlovic gosta de contar com defesas-centrais que se sintam confortáveis com bola, ainda que o elemento-chave na primeira fase de construção seja, muitas vezes, o médio-defensivo, já que lhe compete a escolha entre perscrutar o jogo exterior e o jogo interior. Há uma clara tendência para buscar mais o jogo exterior, até porque dá preferência a laterais capazes de oferecer amplitude e atacar a profundidade, até porque a fluidez das combinações pelo espaço interior passa muitas vezes pela capacidade que o avançado-centro tem para jogar de costas para a baliza. Foi isso que aconteceu no Torino, onde Belotti assumiu com qualidade esse papel: um avançado que baixava frequentemente para as entrelinhas, produzindo arrastamentos e oferecendo apoios frontais e/ou bolas no espaço, para serem atacadas por movimentos de apoio e/ou de rutura dos médios-alas/extremos – astutos a surgirem em zona de criação ou de finalização – e dos médios-interiores – a quem exige, por norma, grande disponibilidade física de forma a jogarem de área a área. O papel dos médios-alas, tanto em organização como em transição ofensiva, costuma ser crucial nas suas equipas. Isto porque lhes exige grande mobilidade e que explorem diagonais para o espaço interior com e sem bola (em transição) ou que surjam, em várias situações, próximos um do outro, de forma a criarem situações de vantagem numérica sobre um corredor (em organização). Quando esta situação acontece sobre um dos corredores laterais, do lado oposto é o lateral quem oferece largura e profun- didade. Quando ocorre no corredor central estão, por norma, os dois laterais abertos e profundos. No que concerne ao processo defensivo, não há uma definição padronizada das zonas de pressão, variando consoante as necessidades do jogo. A equipa pode revelar-se pungente na reação à perda, através de uma pressão mais alta, onde é notória a tendência excessiva por buscar referências individuais, mas se é ultrapassada essa primeira linha de pressão – atraída para um lado, fazendo a bola entrar no corredor oposto (desprotegido) – exibe amplas dificuldades no momento de transição, até porque a última linha se posiciona alta. Mas também há vários momentos em que se instala num bloco médio ou médio-baixo, num 1x4x5x1, onde é notória a preocupação dos médios-alas em apoiar os laterais, sempre com o objetivo de garantir situações de paridade ou vantagem numérica no corredor da bola. Contudo, mais uma vez, é notória a excessiva preocupação em definir referências individuais, sobretudo nos adversários que entram nos últimos 30 metros com e sem bola, o que conduz a arrastamentos, permitindo a penetração em zonas proibidas, nomeadamente no espaço entre a linha defensiva – que nem sempre ajusta e controla a profundidade de forma harmoniosa – e intermédia no corredor central. Além disso, a sua tendência para recorrer a referências individuais na defesa de bolas paradas laterais, sem qualquer jogador posicionado junto aos postes, tem custado vários golos sofridos às suas equipas na sequência desse tipo de lance, tanto na sequência de ações de antecipação (primeiro poste) como no aproveitamento do espaço livre ao poste mais distante, por norma, o mais desguarnecido. *
PROJETOS DE ALTO-RISCO LEVAM A QUE AS SUAS IDEIAS SE TENHAM QUE ADEQUAR AO CONTEXTO EM QUE SE INSERE