Não há drama mas há aviso
O JOGO COM MARROCOS MOTIVOU UM CORO DE CRÍTICAS, ALGUMAS ATÉ EXAGERADAS. MAS OS NOSSOS JOGADORES PODEM E DEVEM REFORÇAR AS COMPONENTES EMOCIONAIS. AFINAL, SOMOS CAMPEÕES DA EUROPA
O embate de Portugal com Marrocos tem suscitado um imenso prolongamento. Prolongamento escrito e oral. Quase sempre crítico, até exageradamente crítico, sugerindo a existência de um drama por causa de uma vitória que não teve correspondência em termos exibicionais, alimentando um sentimento de frustração a intervenientes e aficionados.
Foi um jogo de muitos duelos,
demasiados duelos, que a nossa Seleção demonstrou incapacidade para contrariar. Portugal andou sempre atrás do jogo, e se não andou atrás, andou ao lado, que é quase a mesma coisa ou é pior ainda. Quantas vezes ganhámos a primeira bola? E da segunda bola nem é preciso falar, tão evidente foi o nosso desconforto.
Houve ausência de agressividade no pensamento,
salvo a defender. Nesse particular, com raras exceções, sobretudo na fase final da partida, a equipa esteve física e mentalmente crescida. Defender é uma parte do jogo, a tal parte em que não há razões maiores de preocupação. Mas o jogo tem outra parte, a parte ofensiva, sendo que nessa a carência chegou a ser confrangedora, se excetuar- mos o lance vitorioso de Ronaldo e mais dois ou três apontamentos episódicos.
Nunca chegámos a tempo de
apanhar o jogo, não nos libertámos dos defeitos e jamais exibimos as virtudes. Mas foi um triunfo importante, porventura decisivo nesta fase da competição. Há razões para celebrar, mas há outras tantas para refletir. Reforço que importa refutar aquele dramatismo tão nosso, tão português. Ainda assim, não é razoável (salvou-se o desfecho) passar da competên- cia que demonstrámos, ainda que não de forma exuberante em termos coletivos (Cristiano Ronaldo fez a despesa individual da coisa), frente à poderosa Espanha, para uma incapacidade, nos mais diferentes domínios, perante a turma marroquina de dimensão mediana. Em termos individuais, destaque óbvio para o golo, de resto decisivo, obtido por Ronaldo.
Permito-me advertir os adeptos ,
sustentado na minha experiência: preparem-se para ver Ronaldo cada vez menos com bola, ainda que igual ou ainda mais forte na eficácia.
A esperança continua, a paixão subsiste.
Os nossos jogadores, até pelo contágio nacional a que jamais poderão ser alheios, podem e devem reforçar as componentes emocionais. Somos campeões da Europa, já soubemos exterminar o fatalismo lusitano. Importa, sem sobranceria, sempre com humildade, perceber e fazer prova, na arena das emoções, que os outros só poderão ser melhores se nós deixarmos. E não poderemos deixar.
PREPAREM-SE PARA VER RONALDO CADA VEZ MENOS COM BOLA, AINDA QUE IGUAL NA EFICÁCIA