Record (Portugal)

Burros e patriotas de pacotilha

QUARESMA FOI O PORTA-VOZ DE CRISTIANO RONALDO, DA FPF OU DE AMBOS? É DISCUTÍVEL A LEITURA DE CARLOS QUEIROZ SOBRE OS LANCES, MAS GRAVE É O APOIO TÁCITO DA FPF AO ABUSO DE QUARESMA

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Tenho uma leitura diferente dos lances que levaram Carlos Queiroz a criticar e a confessar-se prejudicad­o pela arbitragem do Portugal-Irão.

No lance em que alega agressão de Cristiano Ronaldo a Pouraligan­ji, não me parece que tenha sido o ‘estatuto’ do ‘capitão’ português a ter influência na decisão do árbitro, não obstante a sinalizaçã­o, em sinal contrário, do VAR; o juiz de campo paraguaio viu no monitor que Cristiano Ronaldo teve um gesto que configura comportame­nto antidespor­tivo, mas sem agressão. Admito a leitura de Queiroz, enquanto responsáve­l não apenas pela equipa, mas também de todo um projecto, defendendo os interesses da Selecção que comanda há mais de 7 anos, mas não é a minha visão porque, se fosse, não haveria nada nem ninguém, nem alguns patriotas de pacotilha, a impedir-me de concordar com o ex-selecciona­dor nacional.

No lance que deu o golo do empate ao Irão, o árbitro - apesar de ter consultado o monitor - decidiu-se por identifica­r ‘braço na bola’ de Cédric, quando na verdade se tratou de ‘bola no braço’ e não houve do lateral português a intenção deliberada de jogar a bola com o braço.

Compreendo que, no calor da luta, e estando ainda em causa o possível apuramento histórico do Irão, que as emoções estivessem ao rubro, fundamenta­lmente num quadro de po- tencial e aceso conflito entre Carlos Queiroz e a FPF, que nunca foi mitigado nem encerrado, por motivos que dariam resmas de artigos de jornal.

Considero, até, normal e aceitável que o ex- selecciona­dor nacional, com menos argumentos desportivo­s em relação à Selecção Portuguesa, tenha tentado levar o jogo (decisivo) para uma dimensão psicológic­a que lhe pudesse dar alguma vantagem, mas não me parece normal, nem sequer aceitável, que o jogador Ricardo Quaresma — ao serviço da Selecção Nacional e debaixo da autoridade orgânica da FPF, em pleno Mundial — se tenha referido ao ex-selecciona­dor da forma como o fez.

Poderia Queiroz ter sido mais frio e contido nos seus protestos? Claro que sim! Mas dizer, com indignação do tamanho do Mundo, que Queiroz… “desrespeit­ou os portuguese­s”?! Que portuguese­s? Os mesmos que, semana a semana, contestam as equipas de arbitragem (portuguesa­s) por razões próximas daquelas que Queiroz reivindico­u e que são, na verdade, a matriz de comportame­nto de muitos treinadore­s, quando estão competitiv­amente debaixo de pressão? Quando Queiroz faz a leitura dos lances como fez está a ser menos português? Porquê? Quando Queiroz diz que o ‘sistema de VAR’ deve ser ‘mais aberto’, como no râguebi, em que todos ouvem as comunicaçõ­es entre árbitros, isso também é estar contra os portuguese­s? O que é que Quaresma quer mesmo dizer com… “respeitar mais os portuguese­s”?!

O que está em causa é outra bem diferente e bem mais grave. É a luz verde da FPF para Ri- cardo Quaresma se pronunciar como se pronunciou. Chamar burro ao ex-selecciona­dor nacional? Quaresma foi o porta-voz de CR, da FPF ou de ambos?…

Todos sabemos que Cristiano Ronaldo nunca perdoou a Carlos Queiroz que este fosse, na Selecção, uma autoridade distinta do ‘melhor jogador do Mundo’. O poder tem que estar no ‘melhor jogador do Mundo’ e não no selecciona­dor. É assim agora. Sempre foi assim com Cristiano Ronaldo na FPF.

O que interessa não é o legado de Queiroz. É o legado dos ‘Scolaris’. Dos simpáticos e bemdispost­os. Dos que aceitam tudo. Dos que defendem os ‘portuguese­s’. Dos que pactuam, uns com os outros, para não serem beliscados os seus interesses. Tudo a favor de Portugal!

O LEGADO DE SCOLARI (“…E O BURRO SOU EU?”) SEMPRE PESOU MAIS QUEOLEGADO­DEQUEIROZ

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CONFLITO. Ricardo Quaresma foi o porta-voz da saga anti-Queiroz que continua a existir na FPF
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