Record (Portugal)

Carta de opinião: Sim ou não?

- Salvador Martinha

Ouvem fóruns, não ouvem? Porquê? Para rir, suspeito. Ainda agora estava a ver a versão televisiva da coisa e às tantas um telespecta­dor ligou para a SIC Notícias começando da seguinte maneira: “Estou princesa?” Se isto me diverte? Muito. E atenção que eu sou divertido. Apesar do humor, que como sabem aprecio em qualquer altura, creio que damos demasiada importânci­a à opinião de todos. Se na estrada não se pode circular sem ter carta, porque podem falar em antena pessoas que nem sequer passaram no exame de dizer as letras de A a Z? Ouvir pessoas sem “carta de opinião” é como apanhar um casal sénior na A1 lançado em contramão: vai dar asneira.

Canais e rádios têm como premissa diária dar voz ao povo como se fosse um enorme serviço público prestado ao país. Será? Na minha opinião, lá está, mais uma - opinião 34575045 - o entretenim­ento supera o hipotético serviço público que imputam ao formato. Assim como na casa dos segredos, a ignorância é a chama do programa .

No geral, as pessoas falam com azedume que cega qualquer discernime­nto. Destaco: “A Seleção não sai do meiocampo”, “É o Ronaldo que dá a tática”, “O William anda a passo” - foi só o jogador que correu mais em campo no último jogo, mas a verdade é sempre um pormenor nestas conversas de café, emitidas para todo o país - , blá, blá, mais do mes- mo. E novidades? Passada uma hora a ouvir o programa, posso afirmar que acrescente­i à pasta “aquilo que eu não sabia” zero itens. Proponho, embora não esteja certo que seja uma ideia democrátic­a, o leitor decidirá enquanto desfruta do jornal, que estes programas passem a funcionar como operações stop para caçar “cartas de opinião”: “Senhor Abílio do Ó, a seguir ao direto não desligue, está bem? Temos a PSP em linha e eles gostariam de lhe dar uma palavrinha, ok?” Atraíamos acéfalos e retirávamo­s-lhes a possibilid­ade de voltar a dar opinião. Apenas em antena, ou nas caixa de comentário­s. Nos cafés, oásis de utopia, podiam continuar a falar em contramão. Não matemos os cafés.

Apesar de ser crítico com o novo código da estrada, mais especifica­mente contra o sistema de pontos relativo à carta de condução, julgo que no caso da “carta de opinião” faria algum sentido. Inibiria aqueles que não sabem falar e protegeria aqueles que nos podem ser úteis. Dir-vos-ia que um Eduardo Lourenço até deveria ter pontos a mais, estilo acumular milhas na TAP, e um Bruno de Carvalho teria de tirar a carta outra vez. Se possível, no Chile, num processo que demoraria 14 anos. Mas pronto, chega de falar dos meus sonhos. Até porque já não tenho “carta de sonhos”, perdi-a quando sonhei dezasseis vezes seguidas que o Sporting ia ser campeão. Já vocês, que podem sonhar, façam-no por mim até à final.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal