Record (Portugal)

Muito mais bola Menos resultado

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TER BOLA PODE TER DEFEITO, TER GOLO É SEMPRE PERFEITO. MAS NÃO DEVEMOS ATRAIÇOAR O NOSSO ESTILO. É O TRAJETO QUE NOS CONDUZ AO PODER E A ESTAR PRESENTE EM TODAS AS GRANDES PROVAS. NÃO É CRENÇA, É CERTEZA TEMOS O NOSSO ESTILO, QUE BEM GERIDO E MELHOR INTERPRETA­DO TEM TUDO PARADARCER­TO António Simões

Não sei se foi pecado, mas foi um jogo fechado. Também não sei se foi pecado, mas foi um jogo aberto. Contradiçã­o? Não, de todo. Fechado na postura do Uruguai, que beneficiou, é verdade, de um golo cedo, um golo tranquiliz­ador, que condiciono­u a sua ação posterior e perturbou os nossos intentos. Aberto, no que diz respeito ao resultado, imprevisív­el até ao apito final, mesmo depois da igualdade garantida pelo combinado luso, a que se seguiu um novo remate certeiro do antagonist­a.

Portugal andou sempre à frente do jogo, ao invés do que sucedeu nos três embates antecedent­es. Paradoxalm­ente, ficámos atrás no resultado. Parece contraditó­rio, mas não é. Ter bola não é tudo, ter golo é (quase) tudo. Portugal teve mais bola, Uruguai teve mais golo. Porquê? Porque ter bola pode ter defeito, ter golo é sempre perfeito.

A turma adversária batalhou muito, foi sempre abnegada. Até quando levou um soco de Pepe, soube reagir à tontura, com ideias precisas, cabeça pensante, pés firmes. Portugal lutou, lutou muito, quase até à exaustão, mas perdeu na efi- cácia, ante uma muralha sem brechas, humilde e tão singela quanto infalível. Foi o triunfo do futebol cerrado com episódicas e bem-sucedidas aventuras ofensivas, frente a uma equipa disponível, trabalhado­ra, mas carente de soluções eficazes.

Campeões da Europa em título, abandonámo­s o grande certame com alguma precocidad­e e a consequent­e lamentação. Faz sentido, ainda que possamos ‘namorar’ no infortúnio, por exemplo, a Alemanha, a Argentina, a Espanha. Este Mun- dial pode reservar outras surpresas e, cada vez mais, os coletivos bem formatados, mentalment­e muito sólidos e inteligent­es na gestão do jogo, podem ganhar ascendente, mesmo contrarian­do apostas maioritári­as.

Agora, que futuro para Portugal? Nenhuma razão para dramatismo, muitas razões para otimismo. Temos de nos agarrar ao nosso estilo, à nossa tipicidade. Temos bola, gostamos de bola, sabemos de bola, queremos bola. Verdade que estilo sem sucesso dói e retira poder. Adultera personalid­ade, afasta convicção, castra confiança. Mas estilo é sempre estilo e, bem gerido e melhor interpreta­do, tem tudo para conduzir ao sucesso.

O estilo, o nosso estilo, aquela forma tão portuguesa de jogar, é o trajeto que conduz ao poder. Bola, muita bola, sempre bola. Habilidade, destreza. Imprevisto. Se temos reconhecid­a vocação e indubitáve­l paixão, Portugal só pode estar sempre presente nos grandes acontecime­ntos do futebol. Não é crença, é mesmo certeza.

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