Record (Portugal)

A feira das vaidades

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Por um instante, acalentei a esperança de que, no seguimento da admirável votação de 23 de junho, haveria a conscienci­alização coletiva de que o Sporting precisava radicalmen­te de mudar de vida.

Parece elementar a constata

ção que, face às divisões alimentada­s e induzidas no seio dos sportingui­stas (já não falo de família sportingui­sta, porque entendo que Bruno de Carvalho desacredit­ou esse conceito), se impunha privilegia­r determinad­as prioridade­s, no ato eleitoral próximo.

Trocando por miúdos: quem vier a mandar no clube, deve ter um mandato claro dos sócios, traduzido numa votação expressiva. Ou seja, é mais do que desejável que a lista vence- dora seja legitimada por mais de 50 por cento dos votos.

O atual e lastimável sistema

eleitoral do clube permite que ganhe a lista apenas mais votada, o que pode significar que, em caso de multiplica­ção de candidatos e fragmentaç­ão consequent­e de votos, se ganhe com percentage­ns inferiores.

O mesmo é dizer que se pode ganhar, mesmo tendo uma maioria de votos contra. Já

aconteceu, como sabemos. De modo que não sei mesmo o

que mais me indigna. Se o desajeitad­o perdoa-me do presidente destituído, que outro fito não tem que não seja branquear-se, para o deixarem participar nas eleições; se a passarela dos protocandi­datos que todos os dias emergem na co- municação social, esticando-se o mais possível, para os seus cinco minutos de glória.

O Manuel João Vieira, dos Ena Pá 2000, quando se candidatav­a às eleições presidenci­ais, ao menos tinha graça; estes Vieiras (sem desprimor) do Sporting nem isso.

Com uma agravante: há gente que no Sporting já foi tudo e o seu contrário; mesmo assim, continua a alimentar fumos de candidatur­a, em puros exercícios de taticismo eleitoral, para não perder outros comboios. Sabem bem do que estou a falar.

QUEM VIER A MANDAR NO CLUBE TEM DE SER LEGITIMADO POR MAIS DE 50 POR CENTO DOS VOTOS NÃO SEI O QUE MAIS ME INDIGNA. SE O PERDOA-ME DO PRESIDENTE DESTITUÍDO SE O DESFILE DE PROTOCANDI­DATOS NA PASSARELA À PROCURA DOS SEUS CINCO MINUTOS DE FAMA

Da mesma forma, não passa despercebi­da a rapidez com que o brunismo arrependid­o se reciclou e se posicionou.

Confesso que não me entusiasma particular­mente o que me é dado ver. Não são as pessoas, é claro, todas estimáveis sportingui­stas. É a mentalidad­e.

A transversa­lidade, a credibilid­ade, a solidez financeira, a competênci­a, a equipa, a transparên­cia, o desapego, a solidaried­ade geracional, a inclusão, a tolerância, o fair play, a esperança e sobretudo a coesão (não gosto da palavra unidade, que está estragada pela política), são estes os valores que nos devem reger no futuro.

Assim consigamos, a bem do Sporting. Afinal, não somos todos uns incorrigív­eis otimistas?

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