Record (Portugal)

Argentina: prazer e anticlímax

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Rússia’2018 não mais jogará a Argentina e aproveitam­os para lembrar Daniel Passarela, o melhor central argentino que capitaneou a seleção no primeiro título mundial. Em 1978, Daniel fez do torneio a sua passerelle e continuou a espalhar classe em 1982. Já no México’86, tornou-se no único argentino bicampeão e esteve ainda no França’98 como selecionad­or.

Com 22 golos, o central argentino Passarella foi o mais jovem capitão a erguer uma Taça do Mundo. E se na seleção Daniel foi jogador e selecionad­or, no seu River Plate seria três em um, tornando-se também presidente. Se as imperiais exibições de Passarella foram imaculadas até à conquista do título, tal não se poderá dizer do Mundial. A política do sanguinári­o general Videla entrou em campo e foi a jogo em clima intimidató­rio, condiciona­ndo árbitros e adversário­s. A ditadura ansiava por um sucesso que ocultasse as suas atrocidade­s.

Uma das polémicas envolveu o jogo que levou os argentinos à final. Precisando de vencer os peruanos por quatro golos para ficarem à frente do Brasil, venceram por 6-0! O Peru foi equipa mole perante a ditadura! Na final, ao som de ‘Argentina Corazón’, ouviu-se ‘Tango’ (nome dado à bola do Mundial) e os anfitriões venceram. A poucos metros, operava a ‘Auschwitz de Buenos Aires’. Alexandre O’Neill dedicaria um escrito ao espaço de tortura, ao Mundial e aos que sancionava­m a ditadura de Videla: “Em Buenos Aires, no River Plate, a seis campos de futebol (medidas máximas) do Centro onde, entre outros primores do jogo, se chutavam testículos, mamas e cabeças, a Taça do Mundo ferverá nas mãos de quem a ganhar, de quem a empunhar, de quem por ela beber a merda de ter lá ido.”

Além do tom grave de O’Neill, o Mundial foi também rico noutros registos fisiológic­os. Houve referência a urina alheia que, segundo o ‘Sunday Times’, foi usada para substituir a dos jogadores argentinos que estariam dopados (cenário nunca provado) ou às sensações de Passarella que, após levantar a Taça, não mais a largou, sentindo-se em “orgasmo permanente”. Quarenta anos depois, 2018 foi… anticlímax!

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