A geração de 1999
O TALENTO É IMPRESSIONANTE. E NÃO FALO APENAS NAQUELES QUE, NA FINLÂNDIA, CONQUISTARAM O EUROPEU DE SUB-19. OUTROS – TÃO BONS OU MELHORES – FICARAM DE FORA
O futebol de formação em Portugal aparenta ser um mistério: um país pequeno, economicamente remediado, de fraca cultura desportiva e com poucos jogadores federados, tem resultados bem melhores do que seria de prever. Só em europeus de sub-19, fomos a três finais nos últimos cinco anos e a seleção de sub-21 esteve invencível de outubro de 2011 a junho de 2017.
Aexplicação para este suces
so está, em primeiro lugar, no trabalho feito nas academias dos clubes (dos três grandes, mas não só), na aposta que a Federação tem feito, dando condições únicas às seleções, mas, em importante medida, também na alteração do quadro competitivo. A este respeito, sublinhese os ganhos de maturidade que resultaram da criação das equipas B. Se no Euro 2016, nove dos 23 campeões europeus tinham jogado em equipas B, no último Mundial de sub-20, o mesmo era verdade para 20 dos selecionados. Agora, neste Europeu de sub-19, tivemos uma seleção formada por jogadores que, ainda mais jovens, já quase todos tiveram experiências em equipas B. Há um antes e depois das equipas B para o futebol de seleções jovens em Portugal. Sintomaticamente, os sub-21 estiveram os tais seis anos invencíveis a partir de 2011 e após terem falhado três vezes consecutivas a qualificação para o Euro (curiosamente, as equipas B foram criadas em 2012). Permanece, por isso, um mistério a aposta da Federação numa competição de sub-23 (que perpetua os campeonatos jovens) e o desinvestimento no projeto das B.
Mas, para além de explicações
mais estruturais, sobra também o talento impressionante desta geração de 1999. Além dos jogadores de grande quali- dade que estiveram na Finlândia, este grupo tem, pelo menos, mais seis jogadores que, por estarem nos A dos seus clubes, não foram ao Europeu, mas que são uma mais valia. Com Dalot, Diogo Leite, Rafael Leão, João Félix, Gedson e David Tavares, este grupo, daqui a um ano, e se for exposto a um ambiente competitivo exigente nos seus clubes, tem todas as condições para trazer de volta para Portugal o título de campeão do Mundo de sub-20.
Sobra, contudo, uma inquie
tação. A passagem dos jovens talentos para as equipas principais continua a ser difícil: porque falham ou, muito pior, porque são vendidos prematuramente. Penso no caso do meu Benfica: Rúben Dias, capitão em todos os escalões, aparenta estar na porta de saída para o Lyon (!), antes de maturar como capitão na equipa principal; quando se vê o Jota a jogar, a sensação com que se fica é que deve estar na iminência de ser vendido por 15 milhões para um Wolverhampton da vida. Pior, isto numa altura em que o Benfica parece estar interessado, para a mesma posição, em Omur, um turco, também de 1999, com passagem ultradiscreta pelo Europeu, com menos cinco centímetros do que o Jota, mas pelo qual, a crer na imprensa, terá sido feita uma oferta ao Trabzonspor de 10 milhões de euros mais dois jogadores. O costumeiro carrossel de comissões e de intermediários que dá que pensar.
NÃO EXISTEM MUITOS PAÍSES COM RESULTADOS TÃO BONS NAFORMAÇÃO. PORTUGAL É UM MISTÉRIO