O que o futebol quer
Existem análises a lances que, para serem corretas e justas, não cabem nos 200 caracteres que tenho aquando das avaliações que faço do trabalho dos árbitros que dirigem os jogos dos três ditos grandes. Já o escrevi aqui e, hoje, repito. Isto porque nos jogos deste fim de semana aconteceram algumas decisões que, apontando eu erros de arbitragem, merecem uma análise mais profunda do que o simples ‘falhou’!
No jogo da jornada, entre os dois primeiros classificados, FC Porto e Sp. Braga, apontei um erro importante à equipa de arbitragem: pontapé de penálti por sancionar favorável ao FC Porto por mão de Sequeira após cabeceamento de Soares. É, no entanto, importante sublinhar que opinar após ver várias repetições, de vários ângulos e sem ter a pressão de tomar uma decisão em centésimos de segundo (árbitro) ou até vários segundos (VAR), é complemente diferente. Não digo mais cómodo, porque sei e sinto a responsabilidade que tenho ao avaliar publicamente o trabalho dos meus excolegas. Munido dessas tais repetições e ângulos diferentes, pude perceber que o movimento de braço do Sequeira não é tão fortuito ou inocente como terá parecido ao Artur Soares Dias dentro do campo. Pude ver que, de forma deliberada e com o braço fora do plano do corpo, desviou a bola. O Artur, que estava bem colocado, terá visto um jogador a virar-se, com o braço em posição praticamente natural, a ser surpreendido pelo cabeceamento e a levar com a bola no braço. A velocidade do jogo tem destas armadilhas. O Artur decidiu com base no que viu e, para ele, não houve penálti. O VAR terá visto a mão, também terá visto que o árbitro viu a mão e, considerando que havia margem para discussão optou, bem, por não intervir. O VAR decidiu bem, tendo em conta o protocolo. Uma última nota sobre este lance: o jogo acabou logo depois, num momento em que o VAR estaria a revê-lo. Se este decidisse chamar o árbitro, poderia fazê-lo enquanto o árbitro estivesse em campo. As indicações nestes casos são: alertar o árbitro de que uma decisão está a ser revista para que este não saia do terreno e possa, ele, alertar os jogadores para que também aí permaneçam. Após a decisão final, informa-se os jogadores e procede-se em consonância: assinalar o penálti ou seguir para o intervalo. Outros dois lances críticos aconteceram no Sporting-Chaves. Bruno Galo entrou a pés juntos de forma violenta sobre Acuña. Isto foi o que o árbitro viu e o que muitos de nós viram nas primeiras repetições que deram desse lance. Expulsão claríssima. Mas depois... surgiu o tal ângulo que nos ‘tramou’ a todos: Bruno Gallo apenas acertou com um pé em Acuña ao mesmo tempo que acertava na bola. Foi um lance duro. Merecedor de vermelho? Não. Mas o árbitro não teve o tal ângulo. E o VAR, que terá tido oportunidade de ver o que nós vimos, ficou também ele preso às amarras do protocolo: não era um erro claro. Mesmo com aquela imagem, haveria quem aceitasse o vermelho. Não podia intervir. A terminar, o penálti de William sobre Bas Dost. O Tiago Martins avisou William que não ia tolerar mais agarrões. William colocou o braço na cintura do holandês quando este se movimentava. Foi o que bastou para o Tiago assinalar o penálti. Decidiu bem com base no que viu e até com base na letra da lei. Por isso o VAR nada podia fazer. A pergunta que podemos deixar é: o futebol quer que se assinalem penáltis assim? *