Record (Portugal)

“Sinto que fiz algo de bom no Sporting”

O MESTRE CAMPEÃO EUROPEU DE JUDO

- TEXTOS ALEXANDRE REIS FOTOS MIGUEL BARREIRA

“ESPERO MUDANÇAS ESTRUTURAI­S. O JUDO TEM DE SER VISTO COMO UMA MODALIDADE CAMPEÃ EUROPEIA NO CLUBE” “INVESTIMEN­TO TEM DE SER DIFERENTE. SE FICAR TUDO NA MESMA, ARRISCAMOS VOLTAR A GANHAR SÓ DAQUI A 20 ANOS”

A quem é dedicada esta Liga dos Campeões?

PEDRO SOARES – É um título que já ninguém nos pode tirar e que vai para os sócios do Sporting. Fui aclamado no estádio, aquando do Sporting-Rio Ave, e senti uma alegria enorme, de missão cumprida. ‘Está aqui, a taça é vossa.’ Deu-me um prazer muito grande e senti que todos os sócios receberam aquele título com um carinho especial. Ainda hoje [ontem] estive no clube e não consegui andar três metros sem que alguém parasse para me dar os parabéns. Sinto que fiz algo de muito bom para o meu clube. Esta Liga dos Campeões deve-se um bocadinho ao facto de como eu sinto o clube, talvez um bocadinho mais do que outros profission­ais que lá estão. Sou um sportingui­sta assumido, fervoroso e sócio há 30 anos. É muito gratifican­te oferecer mais um título europeu, numa modalidade diferente. Salvo erro, era o hóquei em patins, o atletismo, o andebol e o futebol a terem títulos europeus. É um enorme orgulho, pois seria diferente fazê-lo por outro emblema, sem esta ligação sentimenta­l com o Sporting. + Como é que o judo do Sporting atingiu este alto nível?

PS – Cheguei ao sporting em 2007, um passo grande, sem nada às costas quanto a resultados. Era treina- dor da Associação dos Amigos da Damaia, onde comecei, criei a Academia de Judo Pedro Soares com os mesmos atletas, como o Jorge Fonseca. Éramos um grupo de 25 a 30 jovens atletas, num tapete completame­nte vazio, com condições paupérrima­s em termos de trabalho. Foi um início de caminhada difícil, remodelei tapetes, arranjei uma sala só para o judo, criei uma dinâmica que não existia. Foi um trabalho árduo, não havia uma balança, não havia nada, tinha de me preocupar mais com as condições de trabalho do que com a parte desportiva. Depois, os resultados em cadetes e juniores começaram a aparecer, os atletas deixaram de ser adolescent­es para passarem a ser adultos e eu senti a necessidad­e de acender uma luz ao fundo do túnel, trazendo uma referência e fonte de inspiração. + Qual foi o passo dado?

PS – O João Pina demonstrou interesse em vir para o Sporting e foi a minha primeira grande cartada como treinador ao fim de três anos. Pina, um judoca de elevada qualidade, encontrou ali uma atmosfera muito favorável para treinar, com muitos jovens, evoluindo bastante, de modo a sa-

grar-se bicampeão europeu em 2011 e oferecer dois títulos ao clube, indo depois aos Jogos de Londres’2012. + Nada seria como antes...

PS – A partir daí, o clube ganhou asas, vida própria, atletas como Fonseca e Anri Egutidze seguiram na peugada de Pina. Com liderança técnica, atmosfera favorável e dinâmica positiva, o clube emancipou-se em termos nacionais, começou a destacar-se. O primeiro título nacional surgiu em 2011 e foi

até ao tetracampe­onato. Tínhamos a equipa nacional mais forte, dois atletas olímpicos em Londres’2012, Pina e Joana Ramos, tudo num percurso de baixo para cima, como deve ser, sustentado. + Qual a evolução seguinte?

PS – Em 2013 apareceu o ‘sponsor’, a Iguarivari­us, que nos permitiu conquistar a nossa primeira medalha europeia em 2014, outro dos momentos mais felizes da minha vida. Vencemos (3-2) na decisão o Fighter Tbilisi, que era no fundo a seleção da Geórgia, com triunfos de Sergiu Oleinic, Egutidze e Fonseca, três atletas formados no Sporting. O nosso estrangeir­o era bastante fraco e perdeu. Foi uma tarde memorável que nos permitiu estar no patamar que mais queríamos, a Golden League, que acabámos, agora, por vencer, depois de três medalhas de bronze. + Faz agora algum desafio ao presidente Frederico Varandas depois desta conquista? PS – Deu-me os parabéns e ficou

muito feliz com este primeiro troféu europeu no seu mandato. Espero que aconteçam mudanças estruturai­s com o judo, isto se o clube quiser repetir este feito. Tem de se criar condições. Somos mais considerad­os pela organizaçã­o e arbitragem, mas temos de marcar, de ganhar, de atirá-los ao chão. Para que isto se torne uma constante e se repita, é evidente que tudo à volta tem de mudar, profission­alizar-se. O judo tem de ser visto como uma modalidade campeã europeia dentro do clube e o investimen­to tem de ser diferente. Se mantivermo­s tudo na mesma, arriscamos ver o próximo título daqui a mais 20 anos. *

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