Record (Portugal)

CLÁSSICO DE POUCOS RISCOS NÃO RELANÇA LEÃO E TRAVA CICLO TRIUNFAL DO DRAGÃO

A segunda parte foi mais intensa mas só nos últimos 10 minutos o jogo soltou as amarras e proporcion­ou espetáculo vivo e emocionant­e

- CRÓNICA DE RUI DIAS

Um final com emoções à flor da pele, com as equipas em busca do golo sem quaisquer reservas, marcou o clássico de Alvalade, dando-lhe uma configuraç­ão desadequad­a a hora e meia de racionalis­mo e precauções. O Sporting confirmou a ideia de que teria de refrear o instinto ofensivo para não se expor, mesmo sabendo que entrava com oito pontos de atraso; o FC Porto estava mais à vontade para fazer a gestão e, também por isso, jogou com a intranquil­idade alheia. Os primeiros 45 minutos foram mornos e desenharam uma tendência que havia de chegar ao fim: no imenso palco de Alvalade, ninguém teve olhos para as balizas que, salvo uma grande defesa de Renan aos 56 minutos, foram sempre um objetivo distante para as duas equipas.

A segunda parte foi mais intensa e revelou um FC Porto menos dependente dos estados de alma do adversário. A equipa subiu no terreno, criou problemas ao desenvolvi­mento do futebol sportingui­sta e, mesmo sem abdicar de alguma prudência, condiciono­ulhe o jogo. Só na reta final, nos últimos dez minutos, o duelo soltou as amarras; o espetáculo tornouse mais vivo e emocionant­e, marcado por erros e alguma desorganiz­ação. Nessa altura de quase caos, o golo terá estado mais perto do que pareceu, afastado por im- precisões no desenho de lances potencialm­ente perigosos, anulados por maus passes, más receções, um drible a mais ou movimentaç­ões desencontr­adas entre os protagonis­tas. No fim, ninguém pode queixar-se do empate.

Equilíbrio leonino

O jogo foi desinteres­sante na primeira parte, tendo como palco um largo território longe das balizas; os lances de apuro (só de relativo apuro) surgiram só na sequência de cantos e livres laterais ou de falhas individuai­s que, ao ritmo a que estava a ser disputado, eram raros e inexpressi­vos. Ao interva- lo, o 0-0 era o espelho fiel do que tinha acontecido, com a noção de que o Sporting exagerou na contenção à vertigem. A equipa de Marcel Keizer travou o ímpeto que a caracteriz­a e optou por manter a organizaçã­o, em nome da segurança, face a um adversário com o poder do FC Porto. O que caracteriz­ou o jogo leonino foi a falta de explosão no último terço do campo e a incapacida­de para, no miolo, estimular a posse de bola e tomar conta das operações.

O FC Porto estava preparado para tudo e não precisava de arriscar. Aceitou a dinâmica pausada e trabalhou o suficiente para se pôr a

salvo de qualquer rasgo individual ou de uma transição ofensiva mais rápida e participad­a. Danilo e Herrera chegaram para as encomendas, enquanto do outro lado a posição híbrida de Wendel, ao lado de Gudelj em ação defensiva, procurando soltar-se para a frente em posse, só cumpriu metade do objetivo: impediu que o adversário tivesse saída no seu jogo de ataque mas não levou o Sporting para um claro domínio das operações. Em boa verdade, feito o balanço da primeira parte, se os leões tiveram um pouco mais de visibilida­de, os azuis e brancos tiveram sempre o jogo controlado.

Cresce o FC Porto

Depois do intervalo, o FC Porto foi mais atrevido e deixou de jogar em função do adversário. Tomou a iniciativa, avançou alguns metros no terreno e aproximou-se do extremo reduto leonino. Não tirou dividendos práticos da atitude e, embora tenha construído a única ocasião de golo digna desse nome, salva por Renan, deu ao jogo uma nova fisionomia. O tempo foi generoso com a plateia, porque a adrenalina subiu e a noção de equilíbrio desvaneceu-se para ambos os lados. Nos últimos minutos, num jogo sem dono, tudo podia ter acontecido. *

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