O definhar dos clássicos
A injeção de dinheiro televisivo no futebol português andará, grosso modo, pelos 200 milhões de euros anuais, cabendo a principal fatia aos três grandes. Como é evidente, o que entusiasma um operador televisivo não são as receções dos principais clubes ao Tondela ou ao Nacional, por muito respeito competitivo que emblemas dessa dimensão inspirem, mas sim os confrontos de titãs que é suposto apaixonarem o país e causarem palpitações. Infelizmente para todos, estamos a assistir a um preocupante definhar dos clássicos. Nos últimos 12 duelos entre os três grandes, desde 2017/18, foram apontados somente 11 golos. Apenas um jogo, entre o FC Porto e Sporting, contou com três tentos, em contraste com um total de cinco nulos. Não é caso para dizer que estes duelos diretos deixaram de ser decisivos, mas mesmo quando o são o que fica na retina é apenas o golo sentenciador, cuja emoção, com sorte, talvez apague todo o cinzentismo.
O medo de perder é terrível e a pressão pesa sobre os treinadores, que tanto se assumem como arautos do tempo útil de jogo como, quando se sentem encostados às cordas, tudo podem fazer para segurar o pontinho. Todavia, se o Sporting apostou num técnico holandês, como Marcel Keizer, foi precisamente por procurar uma visão mais desempoeirada do fenómeno. Antes do clássico salientei que Sérgio Conceição tinha todos os motivos para não alterar a matriz da sua equipa, dado que dessa forma iria condicionar os leões. O que não acreditava é que Keizer, ante o impasse que se gerou, e estando oito pontos atrás do FC Porto na classificação, não tentasse mudar a face da partida através de Raphinha ou Jovane Cabral, lançando o brasileiro apenas aos 81’. Um calculismo que deixa passar a ideia de que a meta não é o topo.