LÁGRIMAS DE ORGULHO
ESPANHA 4 PORTUGAL 0
A Espanha sagrou-se a primeira Campeã da Europa de futsal feminino, após bater Portugal, sem apelo nem agravo, na final disputada ontem no Multiusos de Gondomar. Desfecho com sabor amargo pela expectativa de sucesso que a nossa Seleção procurou alimentar, mas ajustado a um desenrolar em que a maturidade da equipa do país vizinho fez toda a diferença. Ponto final com um impacto emocional tremendo junto do conjunto orientado por Luís Conceição. Rostos carregados de lágrimas pelos 40 minutos de espírito de sacrifício a tentar minimizar as desatenções que permitiram à formação espanhola fazer dois golos nos primeiros cinco minutos.
PORTUGAL TARDOU A ENCONTRAR O EQUILÍBRIO E NÃO TEVE CRITÉRIO PARA TRANSFORMAR A DEDICAÇÃO EM GOLOS
Erros de cálculo, contudo, com custos demasiado elevados. Primeiro pela explosão dos níveis de ansiedade que, entretanto, se apoderaram do discernimento das portuguesas, depois por força do problema do costume: a ineficácia. Portugal acusou a pressão, entrou a perder, vacilou ainda mais e teve dificuldades em recuperar o equilíbrio, mas quando encontrou a dinâmica nunca conseguiu inventou uma maneira de fazer um golo que fosse, para conferir outro ânimo à reação.
A falta de discernimento no último passe ajuda a justificar a má fortuna portuguesa no capítulo da eficiência, mas não faz justiça à atitude sensata ou rigor tático com que Espanha começou por gerir a inesperada vantagem e até conseguir dilatar para a diferença exagerada (3-0) que o marcador expressava durante o período de descanso. O argumento de que no futsal o contexto pode mudar radicalmente de um minuto para o outro ajudou o selecionador Luís Conceição a injetar confiança na equipa durante o intervalo.
O reflexo desse abraço com a realidade trouxe um Portugal muito mais esclarecido em campo, na etapa complementar. Amplitude nos corredores a criar vários desequilíbrios que permitiram construir um punhado de ocasiões flagrantes, mas ainda e sempre a sofrer do mesmo mal. Maldita ineficácia muito às custas das defesas milagrosas com que a guardiã Silvia Aguete continuou a impedir Portugal de fazer um golo e galvanizar-se para a ansiada recuperação que nunca chegou. A ironia desta desilusão está na analogia com a obra do espanhol Cervantes, mas desta feita a ser Portugal a perder o juízo e a imitar Dom Quixote de La Mancha nas cargas ingénuas contra os estáticos moinhos.
Portugal abriu o peito. Fisicamente deu tudo, mas nunca se libertou do peso anímico da entrada comprometedora e a Espanha não se coibiu de cobrar a fatura para fazer história.
Equilíbrio confrangedor, mesmo quando Portugal, já sem nada a perder, encarou os últimos cinco minutos com uma guarda-redes avançada. Estratégia efémera porque foi nesse tudo por tudo que sobressaiu a qualidade de Vanessa Sotelo. A avançada espanhola, autora da jogada e do golo que sentenciou o jogo, a quatro minutos do final, justificou o porquê de ter recebido o prémio de melhor jogadora da fase final das mãos do mágico Ricardinho. *