Record (Portugal)

LÁGRIMAS DE ORGULHO

ESPANHA 4 PORTUGAL 0

- PEDRO MALACÓ E DIOGO MATOS

A Espanha sagrou-se a primeira Campeã da Europa de futsal feminino, após bater Portugal, sem apelo nem agravo, na final disputada ontem no Multiusos de Gondomar. Desfecho com sabor amargo pela expectativ­a de sucesso que a nossa Seleção procurou alimentar, mas ajustado a um desenrolar em que a maturidade da equipa do país vizinho fez toda a diferença. Ponto final com um impacto emocional tremendo junto do conjunto orientado por Luís Conceição. Rostos carregados de lágrimas pelos 40 minutos de espírito de sacrifício a tentar minimizar as desatençõe­s que permitiram à formação espanhola fazer dois golos nos primeiros cinco minutos.

PORTUGAL TARDOU A ENCONTRAR O EQUILÍBRIO E NÃO TEVE CRITÉRIO PARA TRANSFORMA­R A DEDICAÇÃO EM GOLOS

Erros de cálculo, contudo, com custos demasiado elevados. Primeiro pela explosão dos níveis de ansiedade que, entretanto, se apoderaram do discernime­nto das portuguesa­s, depois por força do problema do costume: a ineficácia. Portugal acusou a pressão, entrou a perder, vacilou ainda mais e teve dificuldad­es em recuperar o equilíbrio, mas quando encontrou a dinâmica nunca conseguiu inventou uma maneira de fazer um golo que fosse, para conferir outro ânimo à reação.

A falta de discernime­nto no último passe ajuda a justificar a má fortuna portuguesa no capítulo da eficiência, mas não faz justiça à atitude sensata ou rigor tático com que Espanha começou por gerir a inesperada vantagem e até conseguir dilatar para a diferença exagerada (3-0) que o marcador expressava durante o período de descanso. O argumento de que no futsal o contexto pode mudar radicalmen­te de um minuto para o outro ajudou o selecionad­or Luís Conceição a injetar confiança na equipa durante o intervalo.

O reflexo desse abraço com a realidade trouxe um Portugal muito mais esclarecid­o em campo, na etapa complement­ar. Amplitude nos corredores a criar vários desequilíb­rios que permitiram construir um punhado de ocasiões flagrantes, mas ainda e sempre a sofrer do mesmo mal. Maldita ineficácia muito às custas das defesas milagrosas com que a guardiã Silvia Aguete continuou a impedir Portugal de fazer um golo e galvanizar-se para a ansiada recuperaçã­o que nunca chegou. A ironia desta desilusão está na analogia com a obra do espanhol Cervantes, mas desta feita a ser Portugal a perder o juízo e a imitar Dom Quixote de La Mancha nas cargas ingénuas contra os estáticos moinhos.

Portugal abriu o peito. Fisicament­e deu tudo, mas nunca se libertou do peso anímico da entrada compromete­dora e a Espanha não se coibiu de cobrar a fatura para fazer história.

Equilíbrio confranged­or, mesmo quando Portugal, já sem nada a perder, encarou os últimos cinco minutos com uma guarda-redes avançada. Estratégia efémera porque foi nesse tudo por tudo que sobressaiu a qualidade de Vanessa Sotelo. A avançada espanhola, autora da jogada e do golo que sentenciou o jogo, a quatro minutos do final, justificou o porquê de ter recebido o prémio de melhor jogadora da fase final das mãos do mágico Ricardinho. *

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal