UM MILHÃO EM SCOUTING SEM RASTO
SAD não obteve relatórios mas pagou-os. Entre 680 nomes referencidos só foram contratados... três
A análise ao trabalho efetuado pelo departamento de scouting durante o mandato de Bruno de Carvalho foi um dos temas que maior destaque mereceu. Durante o período em análise, os gastos “ascenderam a cerca de 3,426 milhões de euros”, sendo que, entre esse valor, pouco mais de um milhão não tem rasto. “A Sporting SAD não obteve os respetivos relatórios de scouting, no total de cerca de 1,025 M€. Destes relatórios, não foram ainda pagos gastos no total de cerca de 65 mil euros”, pode ler-se no relatório a que Record teve acesso. Refirase, ainda, que do total despendido, 1,027 M€ foram aplicados em “serviços prestados que não são efetivamente de scouting, mas sim de outra natureza”, nomeadamente “250 mil euros da venda de Adrien”, no verão de 2017, aos ingleses do Leicester.
Com efeito, para além de questionada a origem dos referidos gastos, foram ainda identificadas várias “deficiências” dentro do departamento, entre as quais “ausência de contratos, contratos não assinados, ausência de relatórios de scouting, relatórios informais, não assinados e não identificados/detalhados, bem como gastos de outra natureza classificados como scouting, etc.”. Por esse motivo, é sublinhado que não foi possível à auditoria forense “concluir se todos os gastos são razoáveis, elegíveis e indispensáveis”.
Aproveitamento escasso
Apesar não os responsáveis pela auditoria não terem tido acesso a todos os relatórios produzidos, uma vez que “alguns estão apenas disponíveis no Departamento Jurídico” e outros foram “assinados em data anterior a 27 de março de 2013”, concluiu-se que, na maioria das análises feitas, os jogadores nem sequer se “enquadraram na política de aquisições da Sporting SAD”. Isto porque, entre 680 nomes referenciados, apenas foram contratados... três: ou seja, um aproveitamento de 0,4%. Ademais, é vincado que os contratos de
QUALIDADE DOS DOCUMENTOS ANALISADOS É DESCRITA COMO “MUITO DUVIDOSA”. ALGUNS NEM SEQUER ESTÃO ASSINADOS
scouting “não são claros”, pois algumas entidades emitiam relatórios “com um jogador”, enquanto outras “com vários”. A própria qualidade de parte dos relatórios é descrita como “muito duvidosa”, pois “não são uniformes ou detalhados” e alguns nem sequer estão “assinados ou disponíveis na sua versão final”.
Ausência de atas
Para além do aspecto financeiro, a Bakertilly faz uma série de “comentários” que deixam a nu debilidades do departamento, que então incluia quatro pessoas: um responsável e três colaboradores. Estes reportavam a Bruno de Carvalho e ao administrador Guilherme Pinheiro - e na fase final de mandato também ao então ‘team manager’ André Geraldes. No entanto, não foram encontradas quaisquer “atas de reuniões ou ‘reportings’ formais que evidenciem esta relação”. É ainda revelado que, hoje, o Sporting pondera mudar de software. Até então era usado o ‘Talent Spy’. *