Proteger o futebol
Entrámos na fase da temporada em que, para alguns clubes, todo o tipo de argumentos e ataques começam a valer desde que acreditem que, dessa forma, vão conseguir condicionar comportamentos e daí retirar algum benefício.
Neste contexto, vamos ver e ouvir todos os fins de semana reclamações sobre decisões que envolvem pontapés de penálti, golos em fora-de-jogo e também expulsões. Vamos ver e ouvir agentes com responsabilidade no futebol a acusar árbitros, assistentes e vídeo-árbitros de incompetência ou, mais grave, de cegueira seletiva.
Os nossos árbitros, uns mais competentes do que outros como em todas as áreas da sociedade, estão já habituados a este ambiente. Infelizmente, é algo para o qual vão sendo preparados ao longo da época, onde a guerra de comunicação entre clubes os vai recorrentemente envolvendo. Estão também preparados porque, temporada após temporada, a realidade é esta. Quem perde acusa para tentar justificar essas derrotas, e quem ganha também acusa para não vir alguém dizer que estão calados porque estão a ser beneficiados. É, portanto, o futebol das acusações e do barulho.
Mas há exceções. Os mesmos clubes e as mesmas pessoas sabem ter outros comportamentos, mais discretos e menos agressivos, quando participam em determinadas competições. Esta semana joga-se a Liga dos Campeões e a Liga Europa. É curioso olhar para o percurso das equipas portuguesas nestas competições, não apenas na presente época, mas em temporadas anteriores, e perceber as reações dos seus dirigentes e treinadores em jogos onde foram claramente prejudicados. O leitor tem dificuldade em lembrar-se de alguma posição de força contra o Comité de Arbitragem da UEFA? Não se recorda de acusações de incompetência ou suspeitas de falta de seriedade dos árbitros internacionais que dirigiram esses jogos? Eu também não... O motivo: o organizador dessas competições (UEFA) preocupa-se em proteger o seu produto. Quem lança suspeitas ou faz acusações a agentes ao serviço da UEFA é severamente castigado. Alguma vez a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e a Federação Portuguesa de Futebol terão a força e vontade para proteger o futebol dessa forma? *