BRINDES E NEGÓCIOS DA CHINA
OITENTA MIL EUROS EM CAUSA Empresas desconhecidas cobraram faturas ao Sporting que causaram estranheza aos auditores
Um dos negócios realizados durante o mandato de Bruno de Carvalho que mais estranheza causou aos auditores da Baker Tilly foi realizado em finais de 2017 e envolveu duas empresas: Chow, Comércio, Importação e Exportação de Metais e Pedras Preciosas, Lda., e PTCN, Comércio e Gestão Hoteleira, Lda. Ora, de acordo com duas faturas analisadas, estas empresas terão sido contratadas para fornecer ao Sporting, respetivamente, “brindes e ofertas promocionais” e divulgar a “marca Sporting na comunidade chinesa”.
Para a prestação destes serviços, a Chow e a PTCN receberam, respetivamente, 60.000 e 20.000 euros. E é aqui que começam as incongruências do processo, como refere o relatório da Baker Tilly a que Record teve acesso. “A fatura de 60.000 euros emitida a 17 de novembro de 2017, tem o número 2017/1, sugerindo ter sido a primeira fatura emitida por aquele fornecedor em 2017. A faturação média da Chow, entre 2013 e 2016, foi de cerca de 1.300 euros (base SABI). Em 22 de março de 2018 [4 meses após a emissão da fatura], a Chow entrou em insolvência e liquidação”, referem os auditores, encontrando também aspetos caricatos no negócio com a PTCN.
“A fatura de 20.000 euros, emitida em 9 de março de 2018, tem o CLÍNICA MALO
Na análise às parcerias com a Clínica Malo de fornecimento de serviços de medicina dentária aos funcionários, os auditores afirmam que estas não terão sido desfavoráveis ao clube, embora critiquem o facto de não existir “informação que evidencie que o Sporting monitoriza os níveis de utilização dos serviços prestados”.
número 2018/1, sugerindo ter sido a primeira fatura emitida em 2018. A faturação média da PTCN, entre 2013 e 2016, foi de cerca de 52.000 euros. De acordo com a base SABI, na data da emissão das
“DE ACORDO COM BASE SABI, NA DATA DE EMISSÃO DAS FATURAS, A CHOW E A PTCN NÃO TINHAM COLABORADORES AO SERVIÇO”
faturas, a Chow e a PTCN não tinham colaboradores ao seu serviço”, refere a Baker Tilly, antes de avançar com uma conclusão. “Até à data deste relatório, não obtivemos informação suficiente que nos permita concluir quanto à natureza, elegibilidade e indispensabilidade destes gastos”, refere a auditoria, que já identificara diversas outras irregularidades no processo, como a inexistência de “propostas de fornecedores alternativos” ou “propostas destas entidades, com termos e condições”, ou seja, “descrição dos produtos, preços, prazos de entrega e de pagamentos”.
Numa última referência a este assunto, a Baker Tilly revela que, até à data do envio deste relatório, não obtivera qualquer “evidência de que aqueles bens e serviços tenham sido recebidos/prestados (guia de remessa assinada, guia de entrega assinada, validação do departamento a que se dirigiam os brindes”, nem “a aprovação/confirmação da respetiva área operacional, validando a natureza destes brindes e ou serviços de divulgação”. Até porque no clube não foram encontrados “relatórios e outras evidências de divulgação da marca Sporting”.
Uma coisa é certa: Bruno de Carvalho deslocou-se à China em dezembro de 2013, com o objetivo de assinar um protocolo para a realização de uma digressão e prometeu a criação de 20 academias no país. Nunca se falou de brindes nem de negócios da China. *