LIGA EUROPA
A eliminação foi construída passo a passo. Não pelos alemães, que jogaram pouco, mas por um Benfica desorganizado, confuso e desinspirado
O Benfica foi eliminado da Liga Europa mas, em abono da verdade, deve dizer-se que se fez eliminar; segue em frente o Eintracht mas, atendendo ao que sucedeu em campo, é mais correto dizer-se que foram os encarnados a querer interromper a caminhada internacional na Alemanha, ao fim de um jogo em que, perdendo, foram sempre os sujeitos da ação. A eliminação foi construída passo a passo, como bola de neve a crescer do início até ao fim do jogo: na atitude com que a equipa abordou o duelo, a ganhar por 4-2; nas decisões estratégicas e táticas incompreensíveis (João Félix eternamente desterrado para a esquerda, sempre distante do jogo, com Rafa sempre, mas sempre na direita); na atitude global revelada e na desinspiração total de muitos jogadores importantes (Seferovic juntou-se a Rafa na nulidade, enquanto Rúben Dias, Jardel e Fejsa revelaram gritante insegurança). Pelo meio, o Benfica pode ainda lastimar o clamoroso erro do assistente no lance do primeiro golo alemão, um daqueles foras-dejogo que o VAR não deixaria passar. É difícil perder com um golo irregular mas é pior ainda sair de cena ao cabo de tantos erros cometidos e facilidades concedidas.
Simplesmente não jogar
O Benfica foi uma sombra da equipa que tem sido sob o comando de Bruno Lage. Foi incrível o modo como, perante adversário desinspirado e sem soluções, os portugueses não conseguiram jogar com as fragilidades alheias, antes se encarregaram de dar aos alemães as condições para que, mesmo assim, pudessem ser acutilantes e perigosos. A partida foi sempre o que os encarnados quiseram: pelo que não construíram em termos ofensivos, pelas fragilidades defensivas sempre reveladas e pela impotência de, num cenário favorável, conseguirem ter a bola, fazê-la circular e, mesmo sem instinto agressivo, controlar as operações. Com o tempo, a águia entregou-se ao exercício suicida de criar condições para motivar o Eintracht; de o trazer de volta para o jogo e eliminatória. Quis o destino que os alemães chegassem à vantagem num lance claramente irregular – o forade-jogo de Kostic foi detetado à vista desarmada, menos para o assistente do árbitro italiano. Mas, ao intervalo, o resultado tinha o selo da justiça, não pelo que a equipa de Hütter fez para se adiantar no marcador mas pelas falhas clamorosas de um conjunto que ofereceu escandalosamente o jogo ao adversário. Para lá da inépcia do quarteto defensivo e da insegurança nos despiques individuais no miolo, Rafa foi de uma nulidade preocupante na direita, João Félix pouco criou na esquerda, Seferovic foi sempre inconsequente no eixo
do ataque e Gedson, nas suas costas, foi quem mais se aproximou do seu nível. Se queria evitar a eliminação, o Benfica tinha de jogar mais. Melhor: tinha de começar a jogar.
Desorganização final
Os primeiros instantes do segundo tempo foram animadores. Os encarnados vieram mais afoitos, criaram duas situações de apuro e fizeram mais, em cerca de 5 minutos, do que em toda a primeira parte. Mas foi sol de pouca dura. A equipa tirou o pé do acelerador e voltou à desesperante imprecisão do jogo com bola, o que acentuou a ideia de que havia outra solução para, mesmo assim, sair feliz da Alemanha: manter o resultado até ao fim. Antes do golo de Rode, Pizzi e Gonçalo Paciência estavam prontos para entrar, sinal de que os treinadores não estavam satisfeitos. Daí para a frente, o Benfica desorganizou-se à medida que apostou no ataque. Salvio ainda atirou ao poste, prova de que, apesar de tudo, não era preciso um milagre para cumprir o objetivo. *