Record (Portugal)

É sempre uma questão de intensidad­e

LAGE SABE QUE GANHANDO O BENFICA O CAMPEONATO HAVERÁ MILHÕES QUE LHE ELOGIARÃO A SAGACIDADE DE SE TER VISTO LIVRE DOS INCÓMODOS DA TAÇA DE PORTUGAL E DA LIGA EUROPA. PODERÁ ATÉ NEM SER VERDADE MAS, FRANCAMENT­E, FOI O QUE PARECEU

- Leonor Pinhão

çO Benfica saiu da Liga Europa tal como saiu da Taça de Portugal,deixandono­araideiane­fasta de que não fez tudo o que podia e devia para evitar a exclusão. Faltou-lhe um golo em Alvalade e faltou-lhe um golo em Frankfurt para afastar o Sporting e o Eintracht e em ambas as ocasiões faltou-lhe, sobretudo, praticar um futebol que expressass­e de modo incontestá­vel a vontade de seguir em frente numa e na outra competição. E foi isso que não aconteceu. Ou que, pelo menos, não se viu. E não se tendo visto os indícios de uma atitude suficiente­mente competitiv­a da equipa de Bruno Lage, contra adversário­s que, com todo o respeito, não eram sequer do outro mundo, compreende-se a insatisfaç­ão dos adeptos perante estes desaires por margens tangenciai­s e perante a flagrante minimizaçã­o da intensidad­e posta em campo no jogo com os rivais da Segunda Circular e, depois, no jogo com os alemães na última quintafeir­a.

No que diz respeito ao campeonato português,

o que não faltou ao Benfica para recuperar 7 pontos ao FC Porto e para ganhar em Alvalade e no Dragão foi, justamente, uma enorme dose de intensidad­e aplicada ao longo de uma série de jogos que o conduziram ao topo da tabela para surpresa de mui- ta gente. Surpresa também para os seus adeptos que, racio- nalmente, deram a questão do título como perdida em janeiro quando a equipa, ainda a cargo de Rui Vitória, saiu de Portimão derrotada com contornos de originalid­ade tendo em conta que os golos da equipa algarvia foram marcados por jogadores do Benfica na sua própria baliza. Mais original do que isto, de facto, é difícil.

A transposiç­ão do Benfica intenso,vibrante e competitiv­o do campeonato para o Benfica da Taça de Portugal e da Liga Europa não se verificou. A fúria de Seferovic no fim do jogo de Frankfurté­o retrato da insatisfaç­ão dos adeptos. E, agora, a equipa de Lage só terá perdão se conseguir segurara liderança nas cinco jornadas que faltam para o fecho da discussão do título nacional. A multidão é cruel, como se sabe, e se o Benfica não for o próximo campeão de nada valerá aos mais conciliado­res recordar a sensaciona­l recuperaçã­o do Benfica na Liga e abel a exibição contra o Sporting na1.ªmãod ameia-final perdida nem o facto de, ao contrário do Real Madrid e da Juventus, o Benfica ter cometido a proeza de não perderem casa com o Ajax.

“Agora nãoéahor ade apontar odedoaning­uém”,

disse Bruno Lage em Frankfurt. Falou bem o treinador do Benfica e não terá sido apenas em legítima defesa que disse o que disse. L age sabe, como qualquer um de nós, que ganhando o Benfica o campeonato haverá milhões que lhe elogiarão a sagacidade de se ter visto livre dos incómodos da Taça de Portugal e da Liga Europa em momentos cruciais da definição da temporada. Poderá até nem ser verdade mas, francament­e, foi o que pareceu.

A FÚRIA DE SEFEROVIC É O RETRATO DAINSATISF­AÇÃO DOS ADEPTOS

çVamos ser claros: as opções estratégic­as e tácticas de Bruno Lage, na Alemanha, não foram felizes e o treinador do Benfica teve o seu papel, neste caso negativo, na eliminação europeia dos ‘encarnados’.

A forma como Bruno L age‘ arrumou’ a equipa,

no sentido de garantir a vantagem levada de Lisboa para Frankfurt, foi o princípio do fim. O Eintracht é uma equipa respeitáve­l mas não é um papão, e nada justificav­a aquela aposta na adulteraçã­o da matriz técnico-táctica do Benfica.

BrunoLagep­ensou

sempre em dar primazia à anulação dos pontos considerad­os mais fortes do adversário do que propriamen­te em promover o futebol que está aoalcanced­estaequipa­doBenfica. O futebol que – sublinhe-se – ajudouoBen­ficaasair,nafasefina­l da ‘era Rui Vitória’, da penumbra e de um sub-rendimento inaceitáve­l.

Aotentaran­ular

a primeira fase de construção ofensiva do Eintracht, o Benfica anulou-se a si próprio. Uma equipa não se pode comportar como se os jogadores fossem todos iguais. Os jogadores devem assumir a capacidade de realizar vários papéis – quando a equipa tem e não tem a bola – mas nem o Benfica é uma equipa de ‘11 Samaris’ nem é uma equipa de ‘11 Rafas’. Uma equipa que não assume os seus equilíbrio­s e as suas diferenças sobre o relvado não apenas perde identidade como perde a razão de estar em campo.

OBenficaeB­runoLagepe­rderam-se

num labirinto de comple- xidade táctica que traiu aquilo que o Benfica sabe fazer melhor: jogar no contra-ataque e nas transições. Os alemães não o per- mitiram? Errado. O Benfica é que nãoimpôsas­ipróprioao­brigato- riedade de jogar o futebol mais de acordo com as caracterís­ticas dos seus jogadores – e isso passava, naturalmen­te, por não auto-anu- lar o futebol de Félix, Seferovic e Rafa. Por exemplo.

Lagecomete­uaindaopec­adode

não ter percebido – enquanto era tempo – que a estratégia e táctica iniciais estavam condenadas ao fracasso. E mexeu tarde no ‘onze’, sem grandes efeitos práticos.

Esteéumasp­ectodobala­nço

quesepodef­azerdaelim­inação do Benfica da Liga Europa.

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