Estofo de campeão
SÉRGIO CONCEIÇÃO TEM ESSA ALMA E SANGUE DE QUEM QUER GANHAR TUDO; NO ENTANTO, PARECE-ME POUCO PROVÁVEL QUE REPITA O GIGANTESCO FEITO DA ÉPOCA TRANSACTA
jogo da Pedreira, para lá dos inúmeros casos que originaram dezenas de horas de televisão e milhares de caracteres que marcaram o confronto Braga-Benfica, fica-me na retina algo que António Salvador tem de ponderar. Ninguém olvida o trabalho de infra-estrutura e de gestão desportiva que o presidente conseguiu realizar; porém, salta à vista de todos que existe ainda um comportamento não uniforme no relacionamento com adversários que cheira a tacanhez de mentalidade.
Com o Sporting, tanto ele como o ‘professor’ Abel batem na mesa,
mostram os dentes, são vigorosos nas declarações. Com outros passam da couraça de ‘rotweillers’ para a pele de caniches e metem o rabo entre as pernas. Se Salvador quer ser grande, não pode tergiversar no seu perfil comunicacional, não pode dar mostras de cobardia ou de um acantonamento táctico perante clubes que com ele se dão melhor. No domingo, os bracarenses tinham todo o direito de libertar as suas frustrações e reclamar da arbitragem; contudo, vimos o líder calado e o treinador a branquear tudo com o “estofo de campeão” do adversário. É certo que o Benfica de Lage é uma águia pujante e não o passarinho
com medo de voar de Rui Vitória, tem classe e qualidade, e não contaria com a escorregadela dos dragões em Vila do Conde. O Porto que ganhou a Youth League, com um naipe de inúmeros talentos que convém não desperdiçar como fez com outros no passado, mostrou nessa competição que, apesar de ainda não ter uma Academia, continua a formar jovens com mentalidade e estofo de campeões que nada temem, algo que faltou aos seniores nos minutos finais contra o Rio Ave. Sérgio Conceição tem também essa alma e sangue de quem quer ganhar tudo; no entanto, parece-me pouco provável que repita o gigantesco feito da época transacta. Os azuis e brancos patinaram diversas vezes, os encarnados recuperaram e galvanizaram os adeptos. E é o momento que decide tudo.
Tenho por hábito de muitos anos ir tirando
apontamentos para cadernos. Como diria uma personagem do escritor nicaraguense Sergio Ramirez, “um filósofo da vida deve deitar sempre mão à caneta, porque não tem o direito de desperdiçar os seus pensamentos. Caso contrário, transforma-se num pensador inofensivo, num leão que perdeu os caninos e não há coisa pior do que um leão obrigado a um regime vegetariano”. Desta semana registei quatro situações: 1- Depois da renovação de Salvio e da aquisição de dois jovens ao Leixões. Paulo Gonçalves, segundo notícia Record, é o empresário mandatado para negociar com o Benfica o jogador Cádiz. Então, mas na SAD encarnada não se tinham já esquecido dele?; 2- A herança para Varandas de Sousa Cintra em poucos meses de uma Comissão de Gestão é de 17 milhões. Onde andam as aves raras do jantar de homenagem e que avançaram com a hipótese de ele ser presidente honorário?; 3uma enorme vitória na Champions de futsal do Sporting que tem dois responsáveis: Nuno Dias e Miguel Albuquerque; 4Iker Casillas é mais do que um jogador de futebol, é uma lenda. O homem com maior palmarés que passou pelos relvados portugueses resistiu a um susto que consternou todo o Globo. Que bom que era que os mais simples e nobres sentimentos do Mundo expressos por tanta gente conhecida e anónima se impusessem às pulsões mais irracionais e descabidas que gravitam em redor do desporto-rei.
Texto escrito na antiga ortografia
EM BRAGA AINDA EXISTE COMPORTAMENTO QUE CHEIRA ATACANHEZ DE MENTALIDADE