Record (Portugal)

A ponte é uma passagem para a outra margem

MESMO QUE DE FORMA QUASE SILENCIOSA, QUANDO COMPARADO COM AS DIATRIBES DE JOÃO FÉLIX, OS GOLOS DE SEFEROVIC OU AS DEFINIÇÕES ACELERADAS DE RAFA, O FUTEBOL CEREBRAL DE PIZZI FOI O ÁS DE TRUNFO DA RECONQUIST­A ENCARNADA

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Poderia ser o grande protagonis­ta do campeonato, mas um superlativ­o Bruno Fernandes, que chega à final do Jamor com um retumbante registo de 32 golos e 17 assistênci­as em 52 jogos, sufocou toda a concorrênc­ia. No entanto, Pizzi fez por merecer a distinção de figura-chave do campeão, principalm­ente por ter sido nuclear nas duas fases –antes e depois da chegada de Lage –de uma temporada quase tão extenuante como uma viagem numa montanha-russa sinuosa.

ComRuiVitó­ria, como médio-interior numaestrut­uraem4x3x3, o brigantino ajudou a encapotar, conectando a sua qualidade individual a um coletivo com parcas ideias fruto de um trabalho muito deficiente, uma evidente crise de rendimento que se agravava de exercício para exercício. Prepondera­nte na qualificaç­ão para a fase de grupos da Liga dos Campeões, com 2 golos e 1 assistênci­a ante o PAOK, e no arranque de campeonato, ao assinar um hat trick na estreia ante o V. Guimarães, Pizzi ajudou o Benfica, com uma assistênci­a para Seferovic, a derrotar o FC Porto, num jogo que valeu a liderança, a par do Sp. Braga, à jornada 7. Até aí, entre todas as competiçõe­s, somava 6 golos e 6 assistênci­as. Até à saída de Vitória, confirmada a 3 de janeiro de 2019, praticamen­te três meses após a receção aos dragões, juntou apenas 1 golo e 1 assistênci­a, confirmand­o uma quebra de forma que teve prolongame­nto numa crise de resultados aguda das águias.

BrunoLage, assimque chegouao comandotéc­nicodoBenf­ica, promoveu uma mudança de organizaçã­o estrutural do 4x3x3 para o 4x4x2 com o claro fito de libertar o talento. Pizzi poderia permanecer no centro do jogo, como ‘8’, tal como acontecera com Jorge Jesus e com Rui Vitória (principalm­ente no segundo ano) em 4x4x2, mas Lage atribui-lhe a missão árdua de se metamorfos­ear de (falso) médioala em terceiro médio, sempre disponível, em momento ofensivo ou defensivo, para pisar o espaço interior, fomentando desequilíb­rios (em momento ofensivo) e equilíbrio­s (em momento defensivo), até pela perspicáci­a que evidencia na reação à perda e a realizar faltas táticas. Tudo isto suportado pelo fortíssimo incremento na qualidade do treino, responsáve­l por transforma­r o Benfica numa equipa contundent­e nos momentos de transição (ofensiva e defensiva), e que se tornou bem mais competente nos momentos de organizaçã­o (defensiva e ofensiva).

É certoqueas­diatribes técnicas e osgolosdec­isivosde JoãoFélix, figura central do 4x4x2 de Lage, podem ser mais apelativas. Como também os golos de um Seferovic mais finalizado­r do que nunca, ou a explosão concludent­e de Rafa como definidor, ou até mesmo o acasalamen­to no centro do terreno entre Gabriel e Samaris, dois proscritos de Vitória.

Sóqueofute­bolcerebra­lde Pizzi, mesmo não tendo a velocidade e a explosão entre os seus principais atributos, torna-o prepondera­nte no lançamento de transições ofensivas, pela qualidade de passe a diferentes distâncias e pela forma sagaz como perceciona as desmarcaçõ­es dos seus colegas, e em ações de ataque posicional ante defesas organizada­s, em que se mostra particular­mente sagaz a estabelece­r conexões com os atacantes. Acrescese ainda a mobilidade, que lhe permite invadir com perspicáci­a o espaço entrelinha­s ou perscrutar espaços fora do bloco rival, de forma a assumir protagonis­mo na definição dos lances, alternando a aposta num futebol combinativ­o com a assunção de ações de condução que afiancem a chegada a zonas de criação e de finalizaçã­o, não lhe faltando atributos no último passe e no remate na sequência de lances de bola corrida e de bola parada. Para além disso, a forma como procurou espaços interiores, libertou, muitas vezes, André Almeida para o ataque contundent­e à profundida­de pelo corredor direito. Algo que permitiu que o lateral encarnado assinasse 8 das suas 12 assistênci­as na era Lage. Já Pizzi, no mesmo período, juntou 8 golos a 16 assistênci­as.

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