Ave, César!
Quando César Peixoto, no seu debute como treinador, assumiu o comando técnico do Varzim sabia que tinha em mãos uma tarefa hercúlea. A formação poveira, que não marcara golos em oito das suas últimas nove partidas, caíra com estrondo na zona de descida, após uma derrota copiosa em Faro (0-3), numa partida em que não criou oportunidades ante um rival direto na fuga à despromoção. A aposta num modelo de jogo arrojado, fiel a um ideário de posse com construção desde trás, a nove jornadas do fim da prova, foi bem recebida pelos jogadores e pelos adeptos, que se uniram com tenacidade na luta pela sobrevivência. Mesmo sem Jonathan Toro, Ruan Teles, Ruster e Stanley, quatro referências ofensivas transferidas no mercado de janeiro, viu-se uma equipa bem organizada do ponto de vista defensivo, estruturada em 4x4x2, capaz de defender de forma curta, compacta e distante da sua baliza (muito boa definição da última linha), como atestam as quatro balizas virgens nos últimos cinco jogos, e acutilante ofensivamente, ao reorganizar-se em 3x4x2x1, sempre com a preocupação de fazer a bola fluir com rapidez entre os três corredores, e extremamente sagaz a sair da pressão do rival de forma a atacar com pungência as suas costas, mesmo que fossem evidentes algumas arduidades no momento da finalização. O lado destemido de César levou-o a recorrer, na fase final do encontro decisivo diante da Académica, a um 3x4x1x2 ultraofensivo, de forma a desfazer o nulo. Só que em vez de apostar num expectável futebol direto para as duas referências ofensivas, o Varzim continuou a procurar ligar jogo de forma apoiada, e o golo que valeu a manutenção chegou na sequência de 11 passes consecutivos com a bola a passar por nove dos 11 jogadores e pelos três corredores, até encontrar o espaço de criação no corredor central. O décimo segundo, do recém-entrado Júlio Alves, foi um passe para o fundo das redes de Júlio Neiva, o maior reflexo do triunfo do futebol elegante.