Record (Portugal)

LAGE SEM FILTRO

O treinador do Benfica declara a intenção de poder contar com o jovem cobiçado pelos grandes europeus por mais uma época; recorda o início na Luz e revela que não contava ser o sucessor de Rui Vitória em janeiro

- ALEXANDRE MOITA E FLÁVIO MIGUEL SILVA

“Pagava 120 milhões para João Félix ficar” “Para mudar era preciso jogar em 4x4x2 e meter o miúdo” “Fiquei rendido ao profission­alismo de Jonas” “Jogámos de travão de mão em Alvalade e Frankfurt” “Teremos de ser mais consistent­es, impor o nosso jogo e arrumar as partidas”

Quando é que foi informado que iria ser treinador do Benfica? O que é que pensou?

BRUNO LAGE – Foi numa situação em que já não estava à espera. Há um primeiro momento em que não acontece e depois um segundo mais à frente, após o Ano Novo, em que não estava à espera. Foi após um dia normal de trabalho, por volta das 20h30, e recebo uma chamada para voltar ao Seixal, depois de ter estado a trabalhar o dia inteiro, a preparar o jogo com o FC Porto B. Após esse dia de trabalho foi regressar à base para falar com o presidente. A primeira ideia foi ter uma oportunida­de para mostrar trabalho, agora na equipa principal. Foi essa a minha forma de estar e foi essa a forma de encararmos cada jogo. Essa foi uma forma de tirar pressão aos jogadores e transmitir-lhes que tinham uma oportunida­de de fazer algo. Foi isso que eu vim fazer, aproveitar todos os momentos enquanto cá estivesse e mostrar o treinador e o homem que sou, além do trabalho que podia desenvolve­r. Já sabia o sentido da conversa com o presidente.

Começou logo a pensar no onze com o Rio Ave?

BL – Pensei muito. Uma das coisas que eu disse logo foi: ‘Vou meter o miúdo [João Félix] a jogar’. Foi um sentimento… Não sei. Foi a primeira coisa. Liguei o carro, e na estrada comecei a pensar nisso. Se queria deixar uma marca, tinha de dar continuida­de àquilo que tem vindo a ser feito, a aposta firme na formação que começou com Rui Vitória. Percebi que havia essa oportunida­de. Íamos jogar em casa e as coisas não estavam a correr bem. Para mudar alguma coisa, era preciso jogar em 4x4x2 e meter o miúdo a jogar.

Foi preciso um trabalho psicológic­o?

BL – A psicologia para nós é trabalhar. A seguir ao jogo, aquilo que mais custa é o primeiro treino. Enquanto treinador, quando o primeiro treino não chega, a derrota ainda cá está. A seguir ao nosso primeiro treino, senti que se fechava um capítulo e que tínhamos de preparar o Rio Ave.

Até que ponto é realista o Benfica vencer uma prova europeia? E João Félix deveria ficar mais um ano?

BL – Recentemen­te, um dos grandes jogadores e com estatuto, o Gaitán, fez uma referência curiosa. Às vezes pensamos que trocamos para melhor e depois de lá chegar ficamos arrependid­os. Nós temos de ser sólidos e tentar criar assim uma carreira, e eu tenho tido esse cuidado. Tenho 20 anos de carreira mas tenho poucos clubes. Tenho seis anos de Benfica, depois estive três com o Carvalhal [n.d.r.: Sheffield Wednesday e Swansea]; já tinha estado dois anos no Vendas Novas e estive outros tantos no Al Ahly… É chegar e consolidar. Acho que o João [Félix] tem apenas 4 ou 5 meses de Benfica. Poderia fazerlhe bem, não sei se um [ano], ou mais, mas consolidar esta meia época dele, de consolidar eventualme­nte uma posição na Seleção Nacional. Com outra maturidade poderia dar um passo ainda maior, eventualme­nte, porque neste momento está num grande clube. O outro aspeto que tem de ser levado em consideraç­ão é o que é o habitat natural. Eu saí do meu país com 35 anos e estive seis anos fora. Com 35 anos não foi fácil para mim. Portanto, acredito que não seja fácil também para um miúdo com 18 ou 19 anos. Ao sair, começa tudo de novo: um novo clube e ter de provar como fez aqui. São decisões que passam por ter um clube com capacidade para o comprar, primeirame­nte. Acredito que poderia dar passos seguros como outros jogadores que temos aqui. Ter um percurso mais sólido, ter mais jogos, e depois prosseguir a carreira noutro lugar.

Pagava 120 milhões de euros por João Félix?

BL – Pagava para ele não sair. Foi o que disse há alguns dias.

Como surgiu aideia daparceria Seferovic e João Félix?

BL – As coisas acontecem com naturalida­de. Vinha com a ideia de meter o miúdo, que já perceberam que é o João Félix. Independen­temente das questões técnicas e táticas, o futebol é um jogo de relações. Percebi que um procura espaços à frente da defesa e outro atrás. Logo ali, era um sinal que poderiam funcionar. Seferovic é um indivíduo muito importante para a equipa,

“GAITÁN FEZ UMA REFERÊNCIA CURIOSA. ÀS VEZES PENSAMOS QUE TROCAMOS PARA MELHOR E DEPOIS ARREPENDEM­O-NOS” “SE QUERIA DEIXAR MARCA, TINHA DE DAR CONTINUIDA­DE ÀQUILO QUE ESTAVA A SER FEITO: A APOSTA NA FORMAÇÃO”

especialme­nte por aquilo que faz no processo defensivo. Disse-lhe muitas vezes isso quando o golo não saía, e a mesma coisa com o João. O golo poderia não aparecer, mas ele não poderia deixar de correr. O Jonas e o João Félix funcionara­m muito bem. Quando vos falei na altura que não tinha três avançados mas sim cinco, tinha mais um na manga de que na altura não poderia falar. Queria perceber após chegar como é que a equipa ia reagir à entrada de quatro ou cinco atletas da equipa B no imediato e depois perceber essa reação quando chamasse o Adel Taarabt, que também pode jogar entre linhas. Tínhamos muitas opções para a frente mas essa dupla foi a que acabou por ser mais utilizada durante a época. *

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