Record (Portugal)

“EM ALVALADE E FRANKFURT JOGÁMOS COM TRAVÃO DE MÃO”

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ALiga Europa e a Taça de Portugal não tiveram o desfecho que queria. O que falhou?

BL – Quero dizer-vos agora, porque naquela altura há coisas que não dizemos: nunca partimos para nenhum jogo da 2ª mão a pensar no resultado da primeira. Não era nossa estratégia ir a Alvalade com a segurança do 2-1 ou a Frankfurt com o 4-2. O objetivo foi tentar impor o jogo. Essa é a crítica que faço à nossa equipa e fi-lo muitas vezes internamen­te: senti que, quando tínhamos algo na mão, jogávamos com travão de mão. ‘Calma, que as coisas vão acontecer’. E não acontecera­m. Foi um dos receios que tinha para este jogo com o Santa Clara, sentirmos que pelo facto de o empate poder chegar, noutras vezes quando ele podia chegar não chegou. Foi o que aconteceu um pouco em Alvalade e Frankfurt. Começámos a jogar quando já não tínhamos as coisas seguras. É a autocrític­a que temos de fazer e já a fiz com os jogadores. Devíamos ter feito melhor nessas duas competiçõe­s. Assumimos isso internamen­te. Na altura não o quis fazer, porque poderia estar a assumir uma fraqueza nossa e tínhamos um campeonato para ganhar. É algo que temos de corrigir de imediato. Com um golo as coisas mudam. Nunca foi nossa intenção fazê-lo, mas aconteceu. Para além dos aspetos táticos, é um aspeto onde teremos de crescer, sendo consistent­es. Um aspeto das grandes equipas da Europa é este. Temos de chegar aos jogos e impor o nosso jogo e arrumar as partidas. Senti isso com esta equipa. Temos de chegar ao 3-0 e não permitir o 2-1 – e estou a lembrar-me do jogo com o V. Setúbal. Damos a oportunida­de ao adversário de ficar vivo no jogo.

Como é que acha que a equipa pode evoluir taticament­e na próxima época?

BL – A equipa tem de crescer em muitas coisas. Por vezes analisamos as equipas em função de um bom jogo e procuramos comparálas com uma equipa como o Manchester City ou Barcelona, saindo desde trás com a bola controlada. Temos essa noção e por vezes queremos levá-la para essa forma de jogar, o que acho que por vezes é um erro. Temos de olhar para os jogadores que nós temos e perceber para onde os podemos levar, tirando rendimento deles. Quando temos, em jeito de brincadeir­a, os cavalos de corrida que nós temos, temos de os potenciar ao máximo. A forma de acelerar o jogo do Pizzi, Rafa, João Félix, Cervi, Seferovic, Grimaldo e André… E vamos tirar o ADN à equipa e ao jogador? Calma! Não temos de fazer 50 passes antes de marcar golo. É ir contra aquilo que eles querem fazer na equipa. Percebemos muito bem os jogadores, queríamos uma forte pressão à saída do jogo adversário, começando a construir desde trás com o nosso guarda-redes, e como estávamos a jogar de três em três dias as coisas teriam de ser feitas de uma forma mais lenta. Queríamos que os jogadores se sentissem confortáve­is a fazer esse caminho. Não era de um dia para o outro que teríamos esses comportame­ntos. Teríamos de treinar, fazer bem e ganhar confiança para fazer contra os nossos adversário­s. Um dos aspetos fundamenta­is na altura foi ter uma transição defensiva forte. Esse foi logo um dos aspetos que vocês reconhecer­am: dava dois passos em frente, perdia a bola e recuperava-a logo. Crescemos, mas em pequenas coisas. Há muita coisa para trabalhar ainda, temos de ser ainda mais consciente­s a defender e a atacar. Há que tentar ter o equilíbrio. Na falta de um certo jogador, na transição defensiva já não fomos tão fortes perdendo a bola na área adversária, e acabava perto da nossa. Um bom exemplo disso foi o primeiro golo que sofremos em Braga, deixando o adversário ganhar um penálti na nossa área. As coisas acontecem, mas temos de ser mais constantes.

Moldou-se às caracterís­ticas dos jogadores ou foram os jogadores que se moldaram mais aquilo que o treinador queria?

BL – Quando começámos, foi um ‘meio-meio’. Em termos defensivos havia o rigor absoluto e no pro

“TEMOS DE POTENCIAR OS CAVALOS DE CORRIDA DO NOSSO PLANTEL AO MÁXIMO. VAMOS TIRAR O ADN À EQUIPA? NÃO!”

cesso ofensivo havia um ‘meiomeio’. Disse-lhes que nunca iria pôr em causa qualquer decisão deles, porque eles é que têm a bola nos pés, mas que iria ser muito chato no posicionam­ento: meter os alas dentro, os laterais fora, os centrais a construir e o ponta-de-lança a fazer os dois movimentos, quer em apoio quer em profundida­de. A partir daí fomos crescendo. Fomos colocando o Pizzi por vezes mais perto do Seferovic, tendo de sentir por vezes que dava largura como ala, mas por vezes, quando pressionav­am o nosso primeiro e segundo médio, ele tinha de baixar e vir à zona de construção. Foi nesse sentido que fomos construind­o a nossa forma de jogar. Fomos percebendo quem poderia fazer o quê. No início as decisões foram deles. Tenho o lado de nunca ter jogado, mas mesmo o treinador que jogou, não o fez em todas as posições. Quando está a falar com os jogadores, viu as coisas de uma posição cimeira e os jogadores só veem quem está ao lado. Há que tentar ajudar a perceber que podem estar no sítio certo dandolhes total liberdade ofensivame­nte.

Que adaptações tem o treinador de fazer na próxima época para surpreende­r os adversário­s? Mourinho, por exemplo, tem sido criticado por não se conseguir adaptar.

BL – Acho é que Mourinho se adaptou aos tempos modernos. Há uma visão de um jogo muito própria da saída por trás, com o guarda-redes e os centrais, e olhar para a posse de bola. Mourinho procura jogar aquilo que os jogadores lhe dão. Foi o que fizemos aqui. O nosso plano era tentar construir melhor, construir pelo guarda-redes, pelos centrais e médios. *

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