Record (Portugal)

“Quero andar de óculos e bigode postiço”

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Acha que, a partir de agora, vai continuar a passar despercebi­do na rua?

BL – Gostava muito. Vamos fechar a época, depois saio de cena. Quero voltar o mais rapidament­e possível à minha vida normal e comum. Agora vou andar na rua de óculos, chapéu e bigode postiço para ninguém me reconhecer [risos]. O que costumo dizer é: neste momento represento o que é ser o treinador do Benfica, mas não deixo de ser o Bruno. Estou disponível para tudo, desde fotografia­s a autógrafos, mas há um momento que é importante: aquele em que estou com a família no dia-a-dia. Por isso, peço que as pessoas nos respeitem. Porque eu respeito muito quem me procura, quem procura o treinador do Benfica. Quando saio do Seixal, se estiverem pessoas à espera para tirar fotografia­s, eu paro e tiro as fotografia­s que quiserem. Mas quando estou com a minha família, gostava que vocês desse lado [dirigindo-se aos adeptos] respeitass­em. Faz falta voltar à normalidad­e e estar tranquilo no café.

Como se descreve numa palavra?

BL - Nós somos homens comuns e é assim que me vejo. Sou uma pessoa que tira um enorme prazer do seu trabalho. Em jeito de brincadeir­a, falei das amolgadela­s do carro e agora aproveito para explicar. Quando se ganha, há um episódio ou outro desse género, mas se abrirmos essa porta… Não é por ter ganho [o campeonato] e ter recebido o prémio de campeão que se pode partir o carro porque afinal há dinheiro para comprar outro. Essa é a porta que não podemos abrir. Se eu, ao ganhar, permitir tudo, amanhã quando perder as pessoas vêm cá partir tudo também. Tem de haver equilíbrio no futebol e na vida, e aqui sem nenhuma direção política.. É a mesma coisa com os jogadores. Se vamos dar ‘jeitinhos’ e não for preciso correr tanto quando estamos a ganhar… Não temos de ir ao exagero porque depois

“NESTE MOMENTO REPRESENTO O TREINADOR DO BENFICA MAS NÃO DEIXO DE SER O BRUNO. FAZ FALTA VOLTAR À NORMALIDAD­E”

perdemos e há uma porta do balneário partida, um vidro de um carro partido… Sou um homem normal, comum, e que tem a felicidade de fazer o que gosta.

Se um neto lhe perguntar por um momento marcante desta época , qual é que elege?

BL – Fui pai com uma idade mais avançada, nem me lembrei que um dia posso vir a ter um neto. O mais importante e o que me deixa satisfeito é deixar marca. Dedicarme tanto e deixar uma marca, ao ser campeão nacional, é um sinal de muita gratidão. Depois de 20 anos de carreira, tudo aquilo que deixámos para trás compensou. Compensou por aquilo de que abdicámos. Tem de ser esse o significad­o de uma vida. Olhando para trás, temos de perceber que o caminho que nós percorremo­s tem uma significad­o. *

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