Record (Portugal)

Mourinho ou Jesus fariam melhor?

VAMOS ESPERAR QUE O PRESIDENTE VIEIRA NUNCA SE ESQUEÇA DE QUANTO DEVE A BRUNO LAGE, POIS A INGRATIDÃO LAVRA RAPIDAMENT­E E SEM MEMÓRIA NO FUTEBOL

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o Texto escrito na antiga ortografia

EmMaio de 1957a massa adepta do Botafogo torceu o nariz ao anúncio de “um homem alto, magro e cabelo à prova de pente” como novo timoneiro. Quem seria um tal João Saldanha? Jornalista, herdeiro com dinheiro e que aceitou o cargo apenas com a condição de não ter salário, algo bizarro que só acentuava a dúvida sobre alguém que ninguém conhecia dos relvados – condição essencial na época para se ser treinador respeitado. Esse desconheci­do tinha “duas línguas que falava bem: a dos jogadores e a das ruas. Não podia falhar”. E veio a conquista do campeonato carioca e três estrelas que brilhariam para sempre: Nilton Santos, Didi e Garrincha. Lembrei-medahistór­iacontadap­orRuyCastr­ona sublime e de leitura obrigatóri­a biografia do inesquecív­el anjo das pernas tortas, “Estrela solitária –um brasileiro chamado Garrincha”, a propósito de Bruno Lage. Já muito foi dito acerca dos seus méritos, eu próprio desde a sua escolha o elogiei pela argúcia com que montava a equipa e lhe dava qualidade, bem como pela cativante comunicaçã­o que uniu o balneário, galvanizou benfiquist­as e seduziu opinião pública e publicada. Então comecemos pelo início. Um dos pontos fracos apontados desde a saída de Luisão (já agora para quando a prometida homenagem), era que faltava um capitão e esse estado de orfandade de liderança esteve no âmago do insucesso e saída de Rui Vitória. Ora, Bruno Lage tem a linguagem dos jogadores e da rua, como João Saldanha, desinibiu-os, pediu para que se soltassem e tivessem prazer a fazer o que lhes dá gozo, tornando-se ele próprio o capitão e centelha aglutinado­ra de um colectivo que tinha como mantra a Reconquist­a mas estava longe, na altura, dos dragões na classifica­ção geral. Comessaemp­atiacomosh­omens que fazem dele um bom treinador, como humildemen­te declarava à imprensa, dá um show de bola em Alvalade, calando qualquer dúvida ou incerteza sobre as suas capacidade­s, agregando e dando uma nova esperança que se tornou a principal couraça deste Benfica que se rejuvenesc­eu na alma –metendo para baixo do tapete todos os traumas das questões judiciais – e no seu sangue, injectando uma série de talentos indiscutív­eis ‘made in Seixal’. E se no Sporting foi Bruno Fernandes quem calou os críticos de Varandas e Keizer, que lhe devem imenso, na Luz, Bruno Lage, com a sua caminhada fulgurante com uma segunda volta de sonho e tornando-se em 30 anos o mais jovem técnico a ser campeão, silenciou e apagou os erros de Vieira.

Depois do 37.º título, poucos se lembram de Lema, Conti, Castillo e Ferreyra, quatro apostas falhadas, já está esquecido que Samaris e Gabriel estiveram condenados ao degredo sem qualquer razão sábia e assuntos ligados a Toupeiras nem se mencionam Muito menos o tempo que Vieira demorou a desembaraç­ar-se de um técnico do qual a plateia estava farta e do bailado de espectros que envolveu as ditas “primeiras escolhas” para a sua sucessão. Vamos esperar que o presidente nunca se esqueça de quanto deve a Bruno Lage, pois a ingratidão lavra rapidament­e e sem memória no futebol. E agora, relembrand­o os seus sonhos que eram as suas “primeiras escolhas”, Mourinho ou Jesus fariam melhor?

LAGE TEM A LINGUAGEM DOS JOGADORES E DA RUA. TORNOU-SE A CENTELHA AGLUTINADO­RA

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