A conquista de Jorge Jesus
Jorge Jesus nunca será o Pedro Álvares Cabral do futebol brasileiro, porque é impossível recolher o rótulo na nação que mais venera o fenómeno e que tem a seleção mais bem-sucedida da história. Mas o trabalho que o técnico português está a efetuar à frente do Flamengo devia ser olhado como uma oportunidade de redescoberta das melhores práticas no país pentacampeão mundial. A exibição do Flamengo frente ao CSA, treinado pelo inenarrável Argel, deixou muito a desejar, mas pode ser justificada pelo desgaste inerente à exibição brilhante, três dias antes, perante o Grémio. Garantida ficou assim a presença do Flamengo na final da Taça Libertadores, que já não acontecia há quatro décadas e onde irá defrontar o River Plate de Enzo Pérez. Mais: o Flamengo tinha sete pontos de atraso para o líder do campeonato brasileiro e agora, a dez jornadas do fim, tem dez de vantagem para o segundo e 15 para o terceiro. E conseguiu-o jogando, na maior parte dos casos, um futebol-champanhe que voltou a fazer encher o Maracanã. Quem se apressou a tentar apoquentar o português com comentários ultrajantes teve agora, com uma ou outra exceção, de fazer ‘mea culpa’. E o mais interessante é que Jesus lidou com estas iniquidades com uma serenidade e uma bonomia que não se lhe conheciam. Não pode ter mudado de personalidade aos 65 anos, mas foi ele próprio a reconhecer que aprendeu a respeitar mais os adversários quando esteve na Arábia Saudita a treinar o Al Hilal. Mas a marca principal do trabalho de Jesus será sempre a qualidade do treino e o grau de exigência que coloca tanto nos aspetos técnico-táticos como em tudo o que rodeia uma equipa profissional. E começa a ser altura de os principais responsáveis brasileiros se interrogarem não só sobre o sucesso de Jesus mas também por que razão o segundo classificado (Palmeiras) é treinado por um técnico brasileiro (Mano Menezes) que teve a humildade de vir à Europa aprender os melhores e mais recentes métodos de treino (incluindo a Portugal). Sendo que o Santos segue na terceira posição e é orientado pelo argentino Jorge Sampaoli, outro detalhista…