JORGE JESUS
Mais a frio, já conseguiu assimilar tudo o que aconteceu nestes seis meses?
JJ – Hoje tenho um pouco mais a ideia da importância que teve, particularmente em Portugal, ganhar uma prova como a Libertadores. Na altura, para mim foram mais dois títulos que tinha ganhado e um deles dava-me a possibilidade de ganhar um terceiro, que era o Mundial de Clubes. Hoje, por aquilo que tenho lido, mesmo no estrangeiro, tenho conhecimento de que foram títulos muito mais importantes do que aqueles que ganhei aqui. Esses foram importantes em Portugal; estes não foram só importantes no Brasil. Foram expandidos para todo o Mundo e isso valorizou a minha carreira. todos os jogos sobre a história do ano de 81. A geração até aos 40 anos nunca tinha visto o Flamengo ganhar a prova e aquilo era o jogo mais importante da vida deles. Naquele estádio estavam milhares e milhares de adeptos do Flamengo desesperados.
Também ficou desesperado?
JJ – Eu não senti que poderia ganhar a final nos 90 minutos depois de estar a perder tão perto do fim, mas senti que um golo iria fazer. O Flamengo raramente não faz um golo. Senti que podíamos empatar o jogo e ir para prolongamento. Foi melhor assim, porque fizemos o segundo golo logo a seguir, numa altura em que eu já não acreditava muito e preparava-me para o prolongamento. Foi o troféu mais importante da minha vida e mexeu muito comigo, naquele momento e da forma como aconteceu. Lembrei-me de todo aquele conjunto de pessoas, dos meus amigos… Tinha uma bandeira portuguesa, que os meus filhos me levaram, caso subíssemos ao pódio, para mostrar ao Mundo que o treinador do Flamengo era português. Somos pequeninos mas temos muito conhecimento em todas as áreas. Quis partilhar aquela vitória, porque sabia que em Portugal havia uma demonstração de muito carinho em relação ao Flamengo.
Deu uma entrevista na final da Champions em que apontava a possibilidade de jogar a final do Mundial de Clubes. Porque é que estava tão confiante?
JJ – Aquilo que me desafiou na opção de ir para o Flamengo foi saber que tinha uma Libertadores para ganhar, além das outras competições nacionais, o que me poderia levar à final do Mundial. Mesmo sem certezas absolutas, sabendo do nosso valor e dos jogadores com quem iria trabalhar, eu confiava que era possível. Foi melhor do que eu pensava, pois não foi só ganhar. O Flamengo bateu todos os recordes imagináveis do campeonato brasileiro: recorde de pontos, de vitórias, do melhor ataque… foi recorde de tudo. E chegámos ao Brasil com oito pontos de atraso do primeiro.
Quando lá chegou, houve alguém que disse que só tinha ganhado “três títulos da porcaria do campeonato português”. O que sentiu com as críticas que foram feitas na altura?
JJ – Não gostei. Mas só podia responder a estas pessoas dentro de campo; e dentro de campo é ganhar. Eu hoje percebo melhor porque é que pensavam assim. Para eles, o campeonato português não existe, é zero. Não tinham muita noção do que era o campeonato português, hoje já têm. Como nós não temos noção nenhuma do que é o campeonato brasileiro. Olhamos para a Europa, para Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, um pouco para
França, nunca nos debruçámos sobre a qualidade do campeonato do Brasil. Estamos uns para os outros da mesma forma em relação ao conhecimento do que é o futebol. Eles têm um historial: são cinco vezes campeões do Mundo. Para eles, são o país do Mundo com melhor futebol.
“NÃO FOI SÓ GANHAR. O FLAMENGO BATEU TODOS OS RECORDES IMAGINÁVEIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO”
Sentiu desconfiança pelo facto de ser português?
JJ – Por vir de um país pequeno. A resposta que tínhamos de dar era trabalhar e mostrar que somos
“HOUVE JOGADORES QUE NÃO JOGARAM DUAS, JOGARAM TRÊS OU QUATRO VEZES MAIS DO QUE ESTAVAM A JOGAR”
diferentes. Foi isso que fizemos, mostrámos que somos diferentes. Hoje estão rendidos ao nosso trabalho. Principalmente os adeptos, que têm um carinho por