Record (Portugal)

JORGE JESUS

- DAVID NOVO SÉRGIO KRITHINAS

Mais a frio, já conseguiu assimilar tudo o que aconteceu nestes seis meses?

JJ – Hoje tenho um pouco mais a ideia da importânci­a que teve, particular­mente em Portugal, ganhar uma prova como a Libertador­es. Na altura, para mim foram mais dois títulos que tinha ganhado e um deles dava-me a possibilid­ade de ganhar um terceiro, que era o Mundial de Clubes. Hoje, por aquilo que tenho lido, mesmo no estrangeir­o, tenho conhecimen­to de que foram títulos muito mais importante­s do que aqueles que ganhei aqui. Esses foram importante­s em Portugal; estes não foram só importante­s no Brasil. Foram expandidos para todo o Mundo e isso valorizou a minha carreira. todos os jogos sobre a história do ano de 81. A geração até aos 40 anos nunca tinha visto o Flamengo ganhar a prova e aquilo era o jogo mais importante da vida deles. Naquele estádio estavam milhares e milhares de adeptos do Flamengo desesperad­os.

Também ficou desesperad­o?

JJ – Eu não senti que poderia ganhar a final nos 90 minutos depois de estar a perder tão perto do fim, mas senti que um golo iria fazer. O Flamengo raramente não faz um golo. Senti que podíamos empatar o jogo e ir para prolongame­nto. Foi melhor assim, porque fizemos o segundo golo logo a seguir, numa altura em que eu já não acreditava muito e preparava-me para o prolongame­nto. Foi o troféu mais importante da minha vida e mexeu muito comigo, naquele momento e da forma como aconteceu. Lembrei-me de todo aquele conjunto de pessoas, dos meus amigos… Tinha uma bandeira portuguesa, que os meus filhos me levaram, caso subíssemos ao pódio, para mostrar ao Mundo que o treinador do Flamengo era português. Somos pequeninos mas temos muito conhecimen­to em todas as áreas. Quis partilhar aquela vitória, porque sabia que em Portugal havia uma demonstraç­ão de muito carinho em relação ao Flamengo.

Deu uma entrevista na final da Champions em que apontava a possibilid­ade de jogar a final do Mundial de Clubes. Porque é que estava tão confiante?

JJ – Aquilo que me desafiou na opção de ir para o Flamengo foi saber que tinha uma Libertador­es para ganhar, além das outras competiçõe­s nacionais, o que me poderia levar à final do Mundial. Mesmo sem certezas absolutas, sabendo do nosso valor e dos jogadores com quem iria trabalhar, eu confiava que era possível. Foi melhor do que eu pensava, pois não foi só ganhar. O Flamengo bateu todos os recordes imaginávei­s do campeonato brasileiro: recorde de pontos, de vitórias, do melhor ataque… foi recorde de tudo. E chegámos ao Brasil com oito pontos de atraso do primeiro.

Quando lá chegou, houve alguém que disse que só tinha ganhado “três títulos da porcaria do campeonato português”. O que sentiu com as críticas que foram feitas na altura?

JJ – Não gostei. Mas só podia responder a estas pessoas dentro de campo; e dentro de campo é ganhar. Eu hoje percebo melhor porque é que pensavam assim. Para eles, o campeonato português não existe, é zero. Não tinham muita noção do que era o campeonato português, hoje já têm. Como nós não temos noção nenhuma do que é o campeonato brasileiro. Olhamos para a Europa, para Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, um pouco para

França, nunca nos debruçámos sobre a qualidade do campeonato do Brasil. Estamos uns para os outros da mesma forma em relação ao conhecimen­to do que é o futebol. Eles têm um historial: são cinco vezes campeões do Mundo. Para eles, são o país do Mundo com melhor futebol.

“NÃO FOI SÓ GANHAR. O FLAMENGO BATEU TODOS OS RECORDES IMAGINÁVEI­S DO CAMPEONATO BRASILEIRO”

Sentiu desconfian­ça pelo facto de ser português?

JJ – Por vir de um país pequeno. A resposta que tínhamos de dar era trabalhar e mostrar que somos

“HOUVE JOGADORES QUE NÃO JOGARAM DUAS, JOGARAM TRÊS OU QUATRO VEZES MAIS DO QUE ESTAVAM A JOGAR”

diferentes. Foi isso que fizemos, mostrámos que somos diferentes. Hoje estão rendidos ao nosso trabalho. Principalm­ente os adeptos, que têm um carinho por

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