Record (Portugal)

“Aprendi que não vale tudo para ganhar”

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Um

ex-jogador seu disse-nos que achava que o Jorge Jesus tinha mudado na Arábia Saudita. Mudou?

JJ – Ter saído de Portugal tem-me mudado. Olho para as coisas de maneira diferente. Sou um emigrante e consigo rever-me nos estrangeir­os que trabalhava­m comigo em Portugal. Para mim, eram todos iguais. Na Arábia Saudita aprendi que não vale tudo para ganhar. É um país onde tens de respeitar as regras ou não tens hipóteses de trabalhar lá. Em Portugal temos a mania que vale tudo para ganhar. Por dentro, por fora, por cima, por baixo, pelo lado… Isso é o grande problema do futebol português.

Houve coisas que fez em Portugal que não faria agora?

JJ – Não faria. Sempre respeitei os adversário­s, ganhando ou perdendo, mas há determinad­os momentos da minha carreira em que estava em clubes onde havia uma pressão muito grande para ganhar e achava que ganhar era pela lei do mais forte. A lei do mais forte é só dentro de campo; fora daí, são todos iguais.

Então o fair play já não é uma treta?

JJ – Não, o fair play é uma treta. Isso não existe no futebol. Se for respeito pela integridad­e física dos jogadores, pelo público, pelo adversário, pela cor de quem está a jogar, aí tem de haver fair play. Naquilo que é a essência do jogo, a esperteza do jogador que pode favorecer a sua equipa, pela sua astúcia ou

do Mundo. Pesou no prolongame­nto, como é óbvio. Viram a final e perguntam ‘quem é a melhor?’. O Flamengo esteve no mesmo patamar que o Liverpool. Ali não se distinguiu quem era o melhor, foram duas grandes equipas. E o Flamengo é uma das grandes equipas do Mundo.

Jürgen Klopp disse-lhe isso no final do jogo?

JJ – Tivemos pouco tempo para falar sobre as caracterís­ticas de ambas as equipas. Não tinha nenhum vinho português, nenhum Barca Velha ou Pêra Manca para lhe oferecer, lembrei-me de lhe oferecer uma camisola do Flamengo com o nome dele. Houve ali um erro no número, que era para ter sido o 21, data da final. Ele ficou muito contente, mas não tive oportunida­de de falar com ele sobre o jogo. malandrice, vai sempre existir. Faz parte da criativida­de do jogador, não lhe queiram tirar isso. Quem tem de saber, analisar e perceber é o árbitro.

Muitos adeptos consideram-no um treinador arrogante. É arrogância ou as pessoas confundem isso com confiança no seu trabalho?

JJ – Todos os grandes treinadore­s e jogadores podem ser qualificad­os de um pouco arrogantes. Se acreditas naquilo que fa

“TODOS OS GRANDES TREINADORE­S E JOGADORES PODEM SER QUALIFICAD­OS DE UM POUCO ARROGANTES”

zes, às vezes és um pouco arrogante. Não quer dizer que não respeites os outros, é porque a tua confiança faz-te ter atitudes menos simpáticas. Quem me conhece, sabe que não tenho nada a ver com o significad­o dessa palavra.

Sente que é um treinador mais consensual e que é amado pela maioria dos portuguese­s?

JJ – Sim, porque antes havia a clubite. Agora olham para mim como um treinador do Flamengo e não o treinador que esteve no Sp. Braga, Belenenses, Sporting ou Benfica. Eu quando saí do Belenenses para o Braga fui jogar ao Restelo e fui assobiado. Esse era o peso da minha cruz. Saio dos clubes e os adeptos não queriam que eu saísse. Agora, os adeptos olham para mim sem camisola vestida.

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