“Fui obrigado a aprender como se aduba a relva”
Rúben
Amorim falou de si na apresentação: “Apesar de todos os problemas que tive com ele, houve aspetos que ficaram.” Que treinador pode vir a ser Rúben Amorim?
JJ – O Rúben Amorim foi um dos jogadores que trabalhou mais tempo comigo. Conhece-me melhor do que ninguém. Como jogador era taticamente muito disciplinado. Tinha uma personalidade vincada. O jogador português acha que tem muitos direitos e eu sempre tive mais problemas com portugueses do que com os de outras nacionalidades. O Rúben tem personalidade, acho que vai ser líder como treinador, disse que tem uma ideia e espero que consiga partilhá-la com a equipa. Ter ideias é uma coisa, saber operacionalizá-las é outra. Eu acredito que vai conseguir. É mais um ex-jogador meu que está a dar treinador. Ele não o disse, mas há ex-jogadores que me dizem que hoje são treinadores porque eu os apaixonei pelo treino. Há alguns que eu sinto que podem dar treinadores e aconselho-os a seguirem essa carreira.
Fez isso com o Silas?
JJ – Sim. Era um jogador com um conhecimento tático muito aprofundado. Outro jogador a quem disse que tinha de ser treinador: Pablo Aimar. ‘Quando acabar de jogar quero estar com a minha família’, disse-me. Agora é treinador dos sub-17 da Argentina e adjunto da seleção principal. Outro caso: Bryan Ruiz. Se quiser, pode dar treinador. Quanto ao Rúben Amorim, é jovem, vai começar uma carreira difícil e vai dar muitos pontapés.
Rúben Amorim já está no topo...
JJ – A minha grande vantagem foi começar por baixo. Conheço todas as dificuldades que existem no treino, organização, estrutura… até na relva. Por isso é que hoje sei como se corta e aduba a relva. Fui obrigado a aprender.
No Flamengo teve de resolver detalhes como esses da relva?
JJ – Claro que sim. Um dos males do futebol brasileiro são os relvados. Os campos no Brasil são uma das causas para a velocidade do jogo e para um futebol mais lento. O Flamengo tem consciência disso e as pessoas do clube sabem que temos de mudar os relvados onde treinamos.
Quando começou, ainda no Amora, algum dia lhe passou pela cabeça que treinaria Benfica, Sporting, na Arábia Saudita e o Flamengo?
JJ – Quando começamos algo temos sempre o sonho de chegarmos longe. É como diz a Mariza: ‘Vamos acreditando.’ E foi isso que fiz ao longo da minha carreira, procurei sempre estar dentro de todas as áreas do futebol. Hoje, para ser um grande treinador, não chega só perceber de tática e técnica. E eu fui sentindo que tinha de aprender. Uma das pessoas que me chamaram a atenção para isso foi o prof. Manuel Sérgio.
Houve algo no Flamengo que tenha aprendido e que guarde para a sua carreira?
JJ – Estamos sempre a aprender porque o futebol está sempre a evoluir. No Flamengo aprendi que quanto mais os jogadores gostam do treinador, mais rendimento tem a equipa.
É uma preocupação que tem? Ser amado pelos jogadores?
JJ – Hoje levo isso mais em conta.