Outros mimos
Mais do que prendas fantasiosas, são brindes de escárnio e maldizer. Haverá malícia e alguma malvadeza, mas não se aceitam devoluções. Confio que irá ser respeitado o princípio de que no Natal (também) ninguém leva a mal. Uma ressalva: a produção deste texto foi antecedida da leitura do best-seller ‘Como falar sobre livros que você nunca leu’, obra do francês Pierre Bayard, que além de professor de literatura é psicanalista. Fez duplamente sentido, até pela doideira em que parece perpetuar-se o futebol nacional.
Seguindo a ordem da anterior liga, o primeiro obséquio vai para o presidente do Benfica. A obra ‘Sou do Benfica e isso me envai
Para vários dos ex-árbitros que fazem parte do VAR (Video Assistant Referee) pensei num livro prático e muito didático: ‘Ioga para corrigir a visão’, do japonês Kazuhiro Nakagawa. Parece que substituiu o uso dos óculos ou das lentes de contacto. Ou então ‘Às cegas’, de Josh Malerman, obra de suspense inquietante e vencedora do prémio ‘This is horror’ para melhor livro de terror.
de euros para tratar dos inúmeros processos em que o Benfica está envolvido. Acabei por escolher ‘O vendedor de ilusões’, de Gilberto Pinto. Na sinopse descobre-se que, no universo deste livro, o insólito e o fantástico passeiam-se de mãos dadas com a normalidade do quotidiano. Bate certo com o paradoxo que resulta do discurso europeísta do líder benfiquista e da prestação do clube na Champions.
No mesmo sentido, pensei oferecer a Bruno Lage ‘Quo Vadis Europa – a encruzilhada europeia’, de Bruno Ferreira Costa. Na capa diz que anda entre o ideário romântico e o pragmatismo político, que pode ter tudo a ver com as diferentes escolhas de Lage na Champions e na Liga. Mas a escolha recaiu em ‘O efeito Lage’, da responsabilidade editorial do blogue Lateral Esquerdo. Revela os segredos de quem pegou no Benfica em janeiro de 2019 e conseguiu o que parecia impossível.
Relendo os segredos deste ‘sucesso retumbante’, talvez Lage preserve a sua melhor aura…
Para Pinto da Costa estou hesitante. O livro ‘Desperdício zero’, de Ben Johnson, podia fazer sentido para um líder que, em ano e meio, teve de antecipar mais de metade das receitas televisivas previstas para uma década. Mas olhando às remunerações (incluindo as variáveis) da administração, não é de descurar a obra ‘Como Confúcio pediria um aumento de salário – cem soluções inspiradoras para problemas difíceis’, de Carol Orsborn.
Quando se pensa no presente para Sérgio Conceição é impossível não ter em conta a linguagem escatológica que ele usou, após o Marítimo-FC Porto. ‘O Manual das novas maneiras’, de Vasco Ribeiro, não era mal visto. Mas Conceição é um espírito livre e nunca irá perder a frontalidade, pelo que faz mais sentido ‘A arte subtil de saber dizer que se F*da’, do mesmo escritor (Mark Manson) de ‘Está tudo F*dido’. Segundo o autor, as abordagens são contraintuitivas e o estilo brutalmente honesto.
Para Frederico Varandas há muitas prendas adequadas. Por exemplo: ‘Aprenda a falar bem e impulsione a sua carreira’, de John W. Osborne. Ou então ‘Aprendendo a brincar com testículos de leões’, de Melissa Haynes. Poderia ainda oferecer-lhe ‘A desordem natural das coisas’, o último romance de Margarida Rebelo Pinto, mas não quero ser acusado de contribuir para a sua iliteracia. Mas, olhando para o plantel do Sporting e para o que se passou no último verão, talvez seja melhor ‘Mercado de inverno’. É um ‘thriller’ do escritor de culto escocês Philip Kerr que nos “leva pelos bastidores mais obscuros do futebol de elite”. Ou, então, ‘Quem sou eu’, dos mesmos autores (Juliette Saumande e Maxime Morin) dos best sellers ‘Onde estou?’ ‘E como vim aqui parar?’
Para Silas, resisti à hipótese da escolha ‘Vai correr tudo mal’, de Joana Marques, que escreveu esta obra por estar “desiludida com os livros de autoajuda”. A autora diz que este exemplar “vai dizer-lhe a verdade”, mas trata-se de uma humorista portista e faz mais sentido dar a Silas ‘O treinador clandestino’, do brasileiro Danilo Balu, que pode ensinar-lhe a resolver a falta do curso de 4.º nível.
Os desiludidos por não serem citados nesta página terão direito a um regalo que tem muito a ver com o futebol nativo: ‘O Codex Seraphinianus’, publicado pelo italiano Luigi Serafini, em 1981. É um dos mais estranhos livros de sempre. Por estar escrito numa língua que ninguém entende e estar cheio de ilustrações surrealistas e impossíveis. Mas as rondas pelos alfarrabistas revelaram obras que merecem mimar outros VIP. A saber:
FernandoGomes – O livro ‘Oráculo dos Anjos da Abundância’, e ‘Doreen Virtue e Grant Virtue’, é uma opção coerente para um líder de uma FPF que lançou um canal televisivo que já deve ter um ‘budget’ e um número de colaboradores que fazem sentir-se pequeninos vários órgãos de comunicação seculares. A obra diz que “quando se entra no luxo da abundância tem-se mais recursos disponíveis que podem ser usados para ajudar os outros”. Mas nada refere sobre o sentido de uma Federação também querer disputar a liga das audiências.
CUMPRINDO UMA PRAXE NATALÍCIA, VOLTO A DEIXAR AQUI PROPOSTAS DE MIMOS IMAGINÁRIOS PARA ALGUNS DOS PROTAGONISTAS DO FUTEBOL PORTUGUÊS – SÃO, NO ESSENCIAL, LIVROS
PedroProença – Háduasalternativas para umpresidente daLiga querevela dotes raros para passar entreospingosdachuvaquando está tudoembrasa: ‘Asvantagens deser invisível’, deStephen Chboskyou, então, ‘Vamosbrincar aoesconde-esconde’, daeditora brasileira HappyBooks.
António Salvador – Para o presidente do Braga vai o livro ‘Desperte o gigante que há em si’, de Anthony Robbins. Por estar em promoção e ser escrito pelo “maior guru motivacional do mundo”.
BrunodeCarvalho – Leva um livro recomendado por Bill Gates: ‘Everything Happens for a Reason: And Other Lies I’ve Loved’ (‘Tudo acontece por uma razão: e outras mentiras que eu amei’), de Kate Bowler. E ainda a ‘Agenda de Reiki’ para 2020, de João Magalhães.
Jorge Jesus – Uma escolha óbvia: ‘Fora de série – descubra por que algumas pessoas têm sucesso e outras não’, de Malcolm Gladwell.
Uribe – Só podia ser este: ‘50 coisas que aprendi com a minha mulher’, que o autor (Pedro Ribeiro) diz ser “um pequeno livro para grandes maridos”.