Record (Portugal)

“DAMOS MUITO VALOR POR TERMOS A ROUPA LAVADA”

Aos 30 anos, a internacio­nal portuguesa teve de lutar para agora poder viver do futebol. A defesa-central, uma das referência­s no trajeto quase perfeito do Benfica, explica qual é a chave para dominar no panorama nacional

- PEDRO GONÇALO PINTO

São 48 jogos, com 46 vitórias, um empate e uma derrota, 527 golos marcados e sete sofridos. Como se explica este registo desde que o Benfica criou uma equipa feminina de futebol?

SÍLVIA REBELO – A chave é o trabalho. Trabalhamo­s muito diariament­e para alcançar os nossos objetivos. É tudo fruto do nosso foco. Somos uma equipa bastante focada e aproveitam­os todos os minutos do treino para evoluir.

Depois da primeira época no segundo escalão, agora estão no primeiro apenas com vitórias. A chave passa por nunca relaxar?

SR – Sim! Principalm­ente este ano a competição é diferente. Sem desrespeit­ar os adversário­s da segunda divisão, sabemos que a primeira é muito mais competitiv­a. Temos de entrar em todos os jogos encarando-os como se fossem contra Sporting ou Sp. Braga, mais uma vez sem tirar mérito às outras equipas. É o nosso foco.

Quão marcante seria conquistar o título nacional logo à primeira?

SR – Era algo especial, principalm­ente para mim, porque nunca fui campeã. Fazê-lo com a camisola do Benfica seria marcante. O projeto merece, por todos os sacrifício­s que têm sido feitos, por toda a aposta, e os nossos adeptos também merecem estes prémios.

Recuando na sua história, como é que o futebol apareceu?

SR – Sempre joguei com amigos. Depois joguei futebol de 7 na Fundação Laura dos Santos e, passados três anos, comecei no futebol de 11 . Estive lá 14 anos, sempre na 2ª Divisão, e dois na 1ª Divisão. Depois estive dois anos no Sp. Braga e apareceu o Benfica.

Na Fundação também tinha de manter um trabalho na lavandaria?

SR – A realidade do futebol feminino, sem ser Benfica, Sporting e Sp. Braga, é assim. As jogadoras têm de ter um trabalho para se sustentare­m. Trabalhava durante o dia e treinava à noite.

Também treinou com a equipa masculina do Gouveia...

SR – Sim, na altura já estava na Seleção Nacional e na Fundação só tínhamos dois treinos por semana. Não havia muita competitiv­idade e, por isso, fui ‘obrigada’ a treinar com rapazes para poder chegar à Seleção e estar perto do nível competitiv­o das minhas colegas porque elas jogavam quase todas lá fora. No clube treinava duas vezes por semana e para o campeonato dava, mas para a Seleção sentia que, quando chegava lá, era difícil. Falei com as pessoas do Gouveia e treinava duas vezes com eles. Terças e quintas com os rapazes, quartas e sextas com a minha equipa.

Olhando para trás, fica orgulhosa por ver onde chegou?

SR – Sinto muito orgulho e nós, que passámos por todas essas etapas, damos muito valor, por exemplo, ao facto de chegarmos aqui e termos a roupa lavada. É uma coisa simples, sim, mas antigament­e era impensável. Cada uma tinha de levar o equipament­o. Por isso, olho para trás e penso que isso nos fez crescer muito, não só enquanto jogadoras mas também como pessoas.

Gostava de ter menos 10 anos?

SR – Por um lado, sim. As mais novas têm tudo para evoluir, mas, por outro lado, se calhar não tínhamos vivido algumas coisas se tivéssemos tido tudo na altura. Não trocava os tempos em que trabalhava e jogava na Fundação, até porque tive convites para sair e nunca quis.

“TEMOS DE ENTRAR EM TODOS OS JOGOS ENCARANDO-OS COMO SE FOSSEM CONTRA SPORTING OU SP. BRAGA”

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SÍLVIA REBELO

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