O novo cérebro das águias
CONVENCER JULIAN WEIGL A TROCAR A ELÉTRICA BUNDESLIGA E A SUMPTUOSA CHAMPIONS PELA ETERNAMENTE PAUSADA LIGA NOS (COM O REBUÇADO DA LIGA EUROPA) É O PRIMEIRO GRANDE TRIUNFO DO BENFICA EM 2020. É CERTO QUE O MEIO-CAMPO DAS ÁGUIAS ESTÁ MUITO BEM PREENCHIDO, MAS ESTA AQUISIÇÃO REPRESENTA UM IMPORTANTE SALTO QUALITATIVO – MESMO QUE TARDIO – EM BUSCA DA PROMETIDA DIMENSÃO EUROPEIA
Natural de Bad Aibling, cidade termal a meia centena de quilómetros de Munique, Julian Weigl encetou o trajeto futebolístico no modesto Ostermünchen. O seu talento invulgar revelou-se prematuramente, o que conduziu a que os dirigentes pedissem uma autorização especial para apressar a passagem do futebol de 7 para o futebol de 11. Algo que o colocou imediatamente na rota do TSV Rosenheim, emblema com mais meios para suportar a formação de um candidato a prodígio. Aí, o seu temperamento galhofeiro custou-lhe alguns dissabores disciplinares, mas a facilidade com que aliava infalibilidade no passe a qualidade técnica tornaram-no na principal referência das equipas de base, motivando, em julho de 2010, a transferência para o 1860 Munique.
A ascensão nos leões foi meteórica. Com idade de juvenil, era titular e unidade nuclear da formação júnior, e não tardou a ser promovido à equipa secundária, a disputar a quarta divisão do futebol alemão. Por isso mesmo, foi sem qualquer espanto que Friedhelm Funkel o chamou à equipa principal, estreando-o na 2. Bundesliga com 18 anos, 5 meses e 6 dias. O impacto foi tão grande que se tornou em presença regular nas seleções jovens alemãs a partir dos sub-19, e, no arranque do exercício seguinte, foi nomeado capitão, tornando-se no jogador mais jovem de sempre a ostentar a braçadeira do gigante adormecido do futebol teutónico. Mas velozmente chegaria uma das maiores lições da sua carreira. Uma saída noturna com mais três colegas de equipa, em que terá tecido duras críticas à direção do clube, custou-lhe a perda do estatuto de capitão e uma breve descida à formação B. Regressaria ainda mais forte. Cobiçado pelo arquirrival Bayern, no início de uma paixão de Pep Guardiola pelo jogador que se estende até hoje, seria transferido no verão de 2015, a troco de míseros 2,5 milhões de euros, para o Borussia Dortmund, exatamente no momento em que Thomas Tuchel assumia a árdua sucessão de Jürgen Klopp.
Menino-bonito de Tuchel, que não hesitou em entregar-lhe o papel de cérebro do meio-campo dos schwarzgelben, foi com o atual treinador do PSG que viveu, entre 2015 e 2017, o melhor período da sua carreira, assumindo-se como um dos melhores médios-defensivos do futebol europeu. Algo que lhe permitiu ser opção para Jogi Löw na seleção principal da Alemanha, pela qual marcou presença no Euro’2016, e surgir na rota de aquisições dos colossos da Premier League, encabeçados pelo Manchester City (de Guardiola). Se é certo que em 2017/18, mesmo não atingindo o nível superlativo dos dois exercícios anteriores, continuou a ser titularíssimo com Peter Bosz e Peter Stöger, a chegada do suíço Lucien Favre, em julho de 2018, ao comando técnico do Borussia Dortmund fez com que perdesse espaço, até pelas aquisições de Witsel e de Delaney, o que representou um investimento de 40 milhões de euros, e pela aposta mais firme em Dahoud. Insatisfeito com o papel secundário, o que até fez crescer os rumores de uma eventual saída no mercado de inverno do ano passado, Favre acabaria por surpreender ao adaptá-lo ao posto de defesa-central. Uma aposta ganha, não só pela impressionante qualidade que ofereceu à primeira fase de construção, mas também pelo robustecimento da sua competência no capítulo defensivo, principalmente na sua imposição em duelos e no adensar da sua competência no desarme. Contudo, o regresso de Hummels a Dortmund, após três temporadas no Bayern, devolveu Weigl, no início deste exercício, à zona central do terreno. Só que a sua utilização frequente ficou a dever-se muito mais às lesões de Delaney e de Witsel do que a uma aposta convicta do treinador suíço, o que ajuda a explicar a surpreendente transferência para o Benfica a troco de 20 milhões de euros.
Médio-defensivo de perfil construtor, Weigl sobressai pela excelsa visão de jogo e pela qualidade e discernimento no passe a diferentes distâncias (preferência clara pelo curto e pelo médio), assegurando, com isso, grande qualidade nos processos de construção a partir das duas primeiras fases, além de voracidade e de firmeza na circulação de bola. Dotado de uma ótima tomada de decisão, de refinada qualidade técnica e de velocidade no pensamento e na execução, assevera cérebro e inteligência ao processo ofensivo, tornando-o definitivamente mais associativo sem perder verticalidade. Se é certo que pode ganhar mais acutilância no último terço, quer na assunção de ações de condução, quer na busca de remates – pé direito – ou na busca de passes de rutura, garante, fruto de um ótimo sentido posicional, o corte de inúmeras linhas de passe, mostrando-se sempre preparado para o momento de transição defensiva e para a reação à perda. A sua passagem pela zona central da defesa permitiu-lhe ganhar agressividade nos duelos sobre o solo e na imposição através do desarme, mas não se trata de um jogador de combate. Além disso, exibe algumas dificuldades nos duelos aéreos e não se destaca pela velocidade nas deslocações.
COM PERFIL CONSTRUTOR, WEIGL SOBRESSAI PELA VISÃO DE JOGO E PELA QUALIDADE NO PASSE