Record (Portugal)

Joguem à bola!

A MÁXIMA QUE DEVERIA UNIR OS QUE DECIDEM SOBRE O FUTEBOL JOGADO EM PORTUGAL DEVERIA SER A FRASE QUE CANTAM ALGUMAS CLAQUES, MAS SÓ QUANDO ESTÃO ZANGADAS COM O RESULTADO

- Octávio Ribeiro Diretor-geral editorial

Enquanto nos deliciamos com o enésimo jogo da liga inglesa com que se vai matando a fome de bola que grassa cá pelo burgo, não podemos deixar de refletir sobre a hierarquia de valores que dita esta longa paragem da competição em Portugal.

PARAR COMO SE OS CENTROS COMERCIAIS FECHASSEM NA VÉSPERA DE NATAL

É

É certo que os jogadores são seres humanos,

têm famílias e amigos. Quem não gosta de uma boa pausa da atividade profission­al, que vá desde antes do Natal até depois do Ano Novo? Mas quantos, nas mais diversas atividades, se podem dar a esse luxo? Para já não falar das remuneraçõ­es milionária­s que as classes alta e média alta dos praticante­s de futebol auferem mensalment­e.

Parar a competição durante os dias

em que os portuguese­s têm mais dinheiro no bolso para gastar, e mais tempo para consumir, é como se os centros comerciais fechassem na véspera de Natal ou os restaurant­es na noite de Ano Novo. Inaceitáve­l na perspetiva do negócio.

Para os patrocinad­ores,

distribuid­ores, adeptos-consumidor­es e imprensa especializ­ada, esta paragem é inaceitáve­l, anacrónica e destruidor­a de valor. Enquanto são futebolist­as de alta-competição, enquanto auferem rendimento­s compatívei­s com este estatuto ímpar, os trabalhado­res devem ter direito às férias de verão e nada mais. Durante a época, os futebolist­as devem estar disponívei­s para jogar duas a três vezes por semana. Já para se empanzinar­em de azevias terão o resto da vida.

Ver tanto futebol inglês

produz outro sentimento de inveja – o tempo útil de jogo e a correlativ­a ausência de paragens para marcar faltas e faltinhas.

É certo que a diluição da forma de jogar britânica

na essência do futebol de outras paragens já leva os jogadores a parar o jogo com algumas manhas. Mais ano menos ano, mesmo em Inglaterra, os árbitros terão de fazer vista grossa não só aos choques duros e leais, como já fazem, mas também a um ou outro atleta que fica no relvado para que o jogo pare. Mesmo com este vírus, adquirido por contaminaç­ão, a arbitragem e o futebol que se joga em Inglaterra deveriam ser aceites por cá como farol para se chegar mais perto da excelência.

Menos faltas, menos quedas por pancadas simuladas,

mais tempo de bola a rolar – só este poderá ser o caminho para um melhor futebol na Liga portuguesa. Com o acréscimo da garantia de que as equipas portuguesa­s ficarão melhor preparadas para os embates nas competiçõe­s europeias. A máxima que deveria unir os que decidem sobre o futebol jogado em Portugal deveria ser a frase que cantam algumas claques, mas só quando estão zangadas com o resultado: joguem à bola, joguem à bola!

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