“ESTES JOGADORES FORAM SURPRESA MUITO BOA”
Selecionador de râguebi conhecia o talento dos jovens portugueses, mas tinha dúvidas da sua capacidade competitiva a curto prazo. A ‘tour’ à América do Sul dissipou-as e reforçou a confiança no apuramento para o Mundial
Que balanço faz destes primeiros seis meses como selecionador nacional?
PATRICE LAGISQUET – O importante foi descobrir o potencial dos portugueses. Sabia que havia muitos bons jogadores jovens, mas, na ‘tour’ à América do Sul, pude ver que vão atingir bom nível. Jogámos contra duas equipas que estão a profissionalizar-se, Brasil e Chile, e foi uma boa surpresa bater o Chile e estar à beira de o fazer frente ao Brasil.
Continua confiante na qualificação para o Mundial’2023?
PL – Sim, porque no 6 Nações B vamos ter também alguns profissionais envolvidos. A nossa fraqueza nestes jogos foi a formação ordenada e, no segundo, os alinhamentos. E tenho a certeza de que poderemos ter um bom ‘cinco da frente’ para o 6 Nações B.
São, provavelmente, os problemas mais antigos do râguebi português…
PL – Precisamos de trabalhar mais esses aspetos. Sabemos que não é a cultura do râguebi português, cujos pontos fortes são mais a velocidade da bola e a agilidade, mas para competir contra Bélgica, Espanha, Rússia, Roménia e Geórgia temos de ser fortes nos alinhamentos e mêlées.
Era o que esperava encontrar ou ficou surpreendido?
PL – Foi uma grande surpresa ver jogadores como Jerónimo Portela, Simão Bento e José Madeira. Sabia que eram bons, mas, mesmo sabendo que podem melhorar muito, foram uma boa surpresa. A mêlée é uma fraqueza, mas percebemos que temos jogadores que podem ser bons nessa fase, só não estão habituados a trabalhar o suficiente ou a ter confiança na forma como a disputam. Jogadores como Hasse Ferreira, Francisco Bruno, Nuno Mascarenhas, são bons na linha da frente, mas o problema não está apenas na primeira linha, está em oito jogadores e na mentalidade, que não está pronta para ter os oito envolvidos na formação ordenada. Temos de trabalhar isso.
Seria importante exportar alguns desses talentos para campeonatos profissionais?
PL –Ser profissional não é questão de dinheiro, mas sim da forma como treinas e te preparas. Jogadores como Tomás Appleton, José Madeira, em dois ou três anos, David Wallis, podiam sê-lo, mas não é o seu objetivo. O importante é que o potencial está lá.
É problema ou desilusão que não queiram ser profissionais?
PL – Não é um problema, é uma escolha que compreendo. O meu filho tem 28 anos, é médico e teve de fazer uma escolha entre os estudos e o râguebi. Escolheu os estudos e nós apoiámo-lo. Mesmo que não sejas profissional podes treinar como um e ser competitivo no 6 Nações B.
Essa foi a fórmula da geração do Mundial’2007, amadores que treinavam como profissionais…
PL – Temos de manter esse espírito com todos os que se juntarem durante o 6 Nações. O importante é criar um verdadeiro grupo que tenha o objetivo de se qualificar para o Mundial. Quem seja, onde jogue, profissional ou amador, isso não deve ser problema. Têm é de pensar e sentir que têm um objetivo comum, ser um bom grupo, envolver-se e ter muito compromisso para fazer história.
E os lusodescendentes de França, será mais fácil convencê-los a jogar por Portugal?
PL – Temos falado com alguns, mas o importante será ter um bom equilíbrio. Gosto mesmo muito do espírito dos jogadores que estão aqui em Portugal, da forma como vivem o râguebi, do seu compromisso e não quero apenas treinar umaequipa de râguebi profissional. Quero mesmo é manter essa especificidade do râguebi português. Estou aqui para isso e não quero apenas ter 15 jogadores que joguem num campeonato profissional. Quero mesmo é 30 ou 40 jogadores com o máximo compromisso quando estiverem na Seleção.
“OS PONTOS FORTES DA SELEÇÃO SÃO A VELOCIDADE DA BOLA E A AGILIDADE”, REFERE O SELECIONADOR NACIONAL