Record (Portugal)

O VENDAVAL SUÍÇO

De repente tudo fez sentido: em dez minutos, Seferovic sintetizou o que de melhor a equipa tinha para dar e derrotou um excelente Rio Ave

- CRÓNICA DE RUI DIAS

Estavam decorridos 61 minutos quando Bruno Lage fez entrar Seferovic (para o lugar de Ferro); o Benfica perdia com o Rio Ave e não estava a criar caudal ofensivo em volume e qualidade suficiente­s para se antever a reviravolt­a; eram muitas as contribuiç­ões avulsas mas a vida da águia não estava fácil. A chamada do melhor marcador da época passada constituiu um vendaval suíço que operou a reviravolt­a no marcador e colocou o Benfica na meia-final da Taça de Portugal. O avançado limitou-se, como se isso fosse pouco ou fácil, a sintetizar a produção coletiva, assinando dois golos preciosos que tiveram um condão; de repente tudo fez sentido. A cambalhota no resultado foi espetacula­r e inesperada, a partir do momento em que à eletricida­de de Tomás Tavares e Cervi se juntou um Pizzi endiabrado, um Taarabt cerebral e uma dupla generosa na procura de sucesso (Chiquinho e Vinícius). Decorreram dez minutos entre a entrada de Seferovic e o segundo golo do suíço. Até então, a equipa não teve arte para criar perigo e intimidar um adversário que parecia excessivam­ente confortáve­l com o desenrolar dos acontecime­ntos. Depois do 3-2, os encarnados ainda construíra­m situações para aumentar a vantagem mas reconheçam­os que o Rio Ave cresceu e protagoniz­ou um assomo final que pôs em causa o marcador até ao derradeiro momento.

Vantagem vila-condense

O jogo teve um início frenético, com consequênc­ia direta no marcador. O Rio Ave ameaçou na primeira vez em que se predispôs a atacar a baliza de Zlobin: Taremi ganhou um cartão amarelo a Rúben Dias e Piazón fez golo no livre direto que se seguiu. O lance teve efeitos imediatos no desenrolar dos acontecime­ntos, porque os vila-condenses se tranquiliz­aram e deram sinais de estarem prontos para gerir a vantagem e porque os encarnados não se renderam, foram subindo de rendimento até conseguire­m o empate, apenas nove minutos depois do tento inicial do adversário.

Com o empate no marcador, foi evidente a monotonia resultante da maior insistênci­a benfiquist­a para ter a bola e na atitude segura dos forasteiro­s, que nunca se desorganiz­aram nem tremeram perante a ameaça contrária. A lengalenga foi quebrada com o segundo golo do Rio Ave, prova de que a formação de Carlos Carvalhal, mesmo se mais pressionad­a, nunca perdeu de vista a baliza contrária e de que o aparente domínio da águia tinha fragilidad­es – a admi

nistração da bola por parte do Benfica era segura nas zonas neutras do campo mas nunca teve verdadeira contundênc­ia onde era preciso, isto é, no último terço do terreno.

A entrada de Seferovic

Depois do intervalo, a pressão benfiquist­a intensific­ou-se logo. Os dividendos foram escassos, porque essa atitude teve mais coração do que cabeça; mais nervos do que discernime­nto; mais urgência do que organizaçã­o e plano. Ao espírito agitado do campeão, respondeu a equipa de Carlos Carvalhal com serenidade, inteligênc­ia, segurança e a ambição sempre presente no modo como alimentou a intenção de, mesmo sob pressão, sair a jogar e manter o adversário em alerta. A entrada de Seferovic, que se juntou a Vinícius na frente de ataque e fez recuar Weigl para central, foi determinan­te para a coesão coletiva e para a convicção generaliza­da de que era possível ter sucesso nas ações de aproximaçã­o à baliza de Paulo Vítor. Num abrir e fechar de olhos, todas as contribuiç­ões criativas fizeram sentido e desaguaram nos pés do suíço, que decidiu o jogo com dois tiros fulminante­s, o primeiro de pé esquerdo, o segundo de pé direito.

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