O renascimento de Gelson
UM DOS PROTAGONISTAS DO CAMPEONATO EM 2016/17 E 2017/18, O QUE O TORNOU PRESENÇA REGULAR NA SELEÇÃO, ECLIPSOU-SE COM A APOSTA FALHADA NUMA TRANSFERÊNCIA PARA O ATLÉTICO MADRID. DEMOROU A RENASCER NO MONACO, MAS AS ÚLTIMAS JORNADAS, E EM PARTICULAR A EXIBI
Nasceu em Cabo Verde, mas rumou a Portugal com apenas oito anos, estabelecendo-se na Venda Nova, uma freguesia do concelho da Amadora. Foi na rua que o seu talento para o futebol emergiu. Por isso, a primeira inscrição como federado aconteceu em 2008/09, quando já tinha 13 anos. Sem passagens por escolinhas ou pelos iniciados, Gelson foi tentar a sua sorte ao Futebol Benfica. A habilidade do miúdo envergonhado deixou todos boquiabertos, e as portas do popular Fofó franquearam-se. Só que ainda houve a necessidade de o persuadir a não trocar o futebol pelo futsal, uma dileção que poderia tê-lo conduzido ao Sporting por outra porta.
As pouco mais de duas épocas em que representou o Futebol Benfica não demoraram a ativar a cobiça de Sporting e de Benfica. Só que o seu coração verde e branco e a ligação de Aurélio Pereira, diretor de recrutamento dos leões, ao clube do bairro de Santa Cruz de Benfica facilitaram a operação em direção a Alcochete, concluída com mil euros pela carta, e a promessa concretizada de dois mil se chegasse aos juniores e de 30 mil se fizesse cinco partidas pela equipa principal. Isto porque o trajeto nas camadas jovens do Sporting foi categórico, o que lhe caucionou a presença regular nas Seleções a partir dos sub-18.
A afirmação definitiva na equipa principal do Sporting deu-se a partir de 2015/16 com a chegada de Jorge Jesus a Alvalade. Se na primeira época o seu papel, face à presença de João Mário e de Bryan Ruiz, era o de jóquer ofensivo, a transferência do português para o Inter escancarou-lhe as portas da titularidade. Metamorfoseou-se, nos dois exercícios seguintes, no jogador mais desequilibrador e decisivo dos leões. Aquele que os colegas buscavam de forma incessante para fazer a diferença, o que lhe permitiu entrar nas opções de Fernando Santos para a Seleção, como atestam as presenças na Taça das Confederações (2017) e no Mundial (2018).
O complexo verão quente leonino de 2018 fez com que rumasse ao Atlético Madrid, numa operação mais tarde avaliada em míseros 22,5 milhões de euros (a que se juntou Vietto). Vítima do Cholismo, procurou relançar a carreira, há um ano, no Monaco, clube que assegurou, em julho de 2019, a sua aquisição a título definitivo por 30 milhões de euros. A instabilidade no clube monegasco, com claras repercussões no desempenho muito aquém das expectativas em termos pontuais, embaraçou a afirmação, o que conduziu ao seu eclipse das opções de Fernando Santos. No principado, foi aparecendo a espaços, alternando o papel de médio-ala/extremo com o de lateral/ala-direito numa estrutura com três defesas. Mas as derradeiras jornadas, com destaque para a exibição do fim de semana ante o PSG (3-3), confirmam que o melhor Gelson está de volta, e o regresso à Seleção, na antecâmara do Euro’2020, terá de ser tido em consideração.
A velocidade, a aceleração, a mobilidade e a agilidade, conjugadas com uma magnífica qualidade técnica e enorme virtuosismo no drible (com vasto repertório de fintas), garantem-lhe a produção de inúmeros desequilíbrios no 1x1. Junta a assunção de pungentes ações de condução aceleradas em ataque posicional, ataque rápido ou contra-ataque: em direção à linha de fundo, de onde solta cruzamentos ao segundo poste; ou ao protagonizar diagonais com bola em direção às zonas de criação e de finalização no espaço interior. Com bons argumentos nos capítulos do passe de rutura e dos cruzamentos – o que lhe permite proporcionar inúmeras assistências – que poderá ainda maximizar ao tornar-se mais estável na tomada de decisão, Gelson destaca-se ainda mais pela espontaneidade no remate com o pé direito, sobretudo quando busca a baliza na sequência de definições cruzadas, até porque surge com grande facilidade, a partir de ações com e sem bola, em zonas de definição. Apesar das suas características marcadamente ofensivas, o trabalho que realizou com Jorge Jesus asseverou-lhe maior consciência do processo defensivo, com claros reflexos na reação à perda.
FOI VÍTIMA DO CHOLISMO NO AT. MADRID. AGORA, NO MONACO, TEM FEITO EXIBIÇÕES DE QUALIDADE