REUNIÃO PARA A HISTÓRIA
Saint-Pierroise pode ser a primeira equipa de um território ultramarino nos ‘oitavos’ da Taça
Sabe qual é a única competição de clubes de uma federação a incluir equipas de quatro continentes? Se respondeu Taça de França, acertou. Além dos clubes gauleses, entram na prova os representantes de territórios ultramarinos de França, como a Guiana Francesa, Guadalupe ou Martinica (América); Nova Caledónia e Polinésia Francesa (Oceânia) ou Mayotte e Ilha da Reunião (África), com todas as despesas (viagens e alojamentos) a serem suportadas pela federação francesa. E é precisamente daquela última ilha, situada em pleno Oceano Índico, que vem o Saint-Pierroise, apenas a segunda equipa do ultramar gaulês a atingir os 16 avos-de-final da prova, igualando o feito do Geldar de Kourou em 1989, clube da Guiana Francesa então eliminado pelo Nantes. Depois de uma viagem de quase 10 mil quilómetros, com perto de 100 adeptos na comitiva – os quais ficaram, certamente, com uma bela história para contar –, o conto de fadas deste pequeno clube, pelo qual já passaram Jean-Pierre Papin, Roger Milla ou
Djibril Cissé, em final de carreira – bem como Payet (atual jogador do Marselha) ou Laurent Robert (ex-Benfica), dois futebolistas naturais da Ilha da Reunião –, pode ter mais capítulos. Após afastar o Niort, da Ligue 2, o
Saint-Pierroise enfrentará, amanhã, o Épinal, do 4º escalão, à procura do feito inédito que seria o apuramento para os ‘oitavos’. Isto já sem Sinama-Pongolle, outro ‘filho da terra’ que fez também carreira na Europa, representando Liverpool, Atlético Madrid e Sporting, entre outros. Agora com 35 anos, o antigo avançado rescindiu recentemente para abraçar a carreira de comentador televisivo, mas fez questão de ir a Niort. “Levantei-me às 6h30 para conduzir quatro horas! Queria estar lá, porque acreditava que o feito era possível”, contou o ex-leão à ‘France Football’, antes de salientar a qualidade dos antigos companheiros: “Quando voltei para a Ilha da Reunião [no ano passado], descobri este grande grupo de amigos e uma ótima equipa também. Em termos de qualidade dos jogadores, posso dizer que não há nada a invejar em relação a certas equipas profissionais. Não imaginam a força mental destes jogadores, os sacrifícios que eles fazem, todos os dias, apenas para poderem jogar futebol. O mais importante no futebol é escrever história, deixar uma marca que será visível durante vários anos. Eles fizeram isso, e estou sinceramente feliz por eles. Posso dizer que ajudei um pouco, porque joguei a 1ª ronda, contra o L’Etang-Salé (9-0) e fiz um hat trick...” A euforia continua e até o modesto Épinal ficou surpreendido com a ‘chuva’ de pedidos de bilhetes. É a magia da Taça!
“TAMBÉM AJUDEI UM POUCO”, DISSE SINAMA-PONGOLLE (EX-SPORTING), NATURAL DA ILHA E QUE RESCINDIU RECENTEMENTE